Pereira, um repórter gordo e muito falador de uma rádio paulista integrava a comitiva de imprensa numa viagem do presidente Figueiredo ao Rio Grande do Sul.
No almoço, no interior gaúcho, se empanturrou de costela das mais gordas num churrasco oferecido a Figueiredo. Depois, pegou o avião da imprensa com mais seis para Porto Alegre. No meio da viagem começou a passar mal. Uma puta dor de barriga e começou a soltar pum que deixou o ambiente irrespirável. O fedor tomava conta de todo o espaço do pequeno avião. O pessoal corria para os fundos da aeronave e o piloto berrava para todos voltarem para não desestabilizar o avião. Nisso, Roberto Stuckert, como sempre um companheiro prestativo, recriminou a todos por não prestarem ajuda ao colega que passava mal.
Os demais justificavam que Pereira fedia pra cacete e não tinha cristão que fizesse essa caridade de ficar sequer perto dele.
Após informado da situação caótica de Pereira, o piloto informou que não tinha alternativa, a parada só mesmo em Porto Alegre, cerca de uma hora ainda de vôo. Pereira, já sem se aguentar, com a testa porejada de um suor frio, deu a mais terrível declaração que todos ali temiam mais que um desastre aéreo: não ia conseguir segurar até Porto Alegre, e o jeito era fazer o serviço a bordo mesmo.
O pânico foi geral. Cada pum de Pereira levava alguns a pensarem em lançá-lo lá de cima de bunda de fora e tudo. Stuckert, como sempre solidário, se prontificou de novo a socorrer o colega. Mas, Pereira era bem gordo e Stuckert teve trabalho para colocá-lo de cócoras na acanhada poltrona do pequeno avião.
Pereira tirou os sapatos, abaixou as calças, a cueca – enquanto todos enchiam a cara de total pavor com o que viria dali – e começou a tomar posição. Foi então que Stuckert acomodou Pereira de cócoras no assento da aeronave e pegou um saquinho de enjoo. Pereira se apoiava com as duas mãos nos braços do assento. O bundão branco e flácido de Pereira parecia um imenso canhão que a qualquer hora ia cuspir fogo. E fogo grosso, o que ocasionou uma correria geral para o fundo do avião enquanto, aos gritos, o copiloto desesperado mandava todos voltarem para a frente. Nariz tampado e olhar de pânico obedeciam como se caminhassem rumo ao patíbulo.
Nisso, o avião entra numa área de pequena turbulência e começa a balançar e sacudir. Stuckert, com o saquinho de enjoo nas mãos tenta, feito um equilibrista de circo, acompanhar o remelexo do bundão de Pereira que se movimenta para cima e para baixo, para a direita e para a esquerda de cócoras na poltrona dificultando a tentativa de mira do Stuckert.
Quando Pereira soltou o primeiro estampido e um odor podre invadiu todo o espaço só se ouvia Stukert gritar : “Nas mãos não!!! Nas mãos não, porra!!!! Puta que pariu, me melou os dedos, porra!!!”
O fedor tomou conta de toda a cabine. Piloto e copiloto puxaram a cortininha de tecido que separava a cabine da tripulação, soltaram alguns “puta que pariu” e se isolaram lá na frente. Vez que outra abriam a cortina e reafirmavam, todos para a frente, senão a aeronave fica descompensada na distribuição do peso.
É que a essa altura todos se amontoavam lá na rabeira. O mau cheiro foi por toda a viagem. Ao descer em Porto Alegre, um dos repórteres fotográficos registrou a cena: Pereira, amarelo, e com passos lentos, descendo do avião todo borrado de braços dados com Stuckert que carregava nos dedos um saquinho de bosta. (Emerson Sousa)