Amanhã, dia 22 de agosto, há 43 anos, morria em acidente de carro na rodovia Presidente Dutra, próximo a cidade de Resende, no Rio de Janeiro, o ex-presidente da República e criador de Brasília, Juscelino Kubistchek de Oliveira. O artigo abaixo “A vida e morte de JK”é de autoria do advogado brasiliense e ex-conselheiro federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Paulo Castelo Branco:
“Ainda estava claro aquele dia 22 de agosto de 1976. Com o banco dianteiro rebaixado, com o intuito de descansar um pouco após aqueles momentos desagradáveis, o corpo cansado pedia um pouco de repouso. Olhou as horas: 17h53m. Por alguns instantes permaneceu olhando o mostrador do relógio Roberto Cart. Lembranças, saudades, o tempo passando. 17h54m. Passara um minuto olhando o mostrador do relógio. “É engraçado”, pensou. Não lembrava mais quem lhe dera o relógio, mas estava sempre com ele no pulso. À noite, estivesse onde estivesse, colocava sobre a cômoda o velho despertador Westclox, usado para acordar na hora desejada, quase nunca necessário já que dormir pouco sempre foi o seu ponto forte” (trecho do livro “A Morte de JK – Um clarão na estrada”)
Podem ter sido estes os últimos pensamentos de Juscelino Kubitschek de Oliveira. Tranquilo e divertido até a hora da morte. Nonô, menino pobre em Diamantina, Minas Gerais. Sonhador, visionário, JK, como ficou conhecido, estudou, formou-se médico, e se transformou no maior brasileiro da nossa história política.
Foi policial militar, deputado, prefeito, governador, senador e presidente da República. Cassado duas vezes, no “Estado Novo” e no golpe militar de 1964. Eleito presidente com 35,6% dos votos, Juscelino prometeu transformar o Brasil em 5 anos; e o fez.
Transferindo a capital para o centro-oeste, o presidente mostrou o quanto era corajoso e audacioso ao construir Brasília em pouco mais de três anos. Durante o mandato sofreu tentativa de golpe de militares insatisfeitos com o seu governo. Presos os revoltosos, JK os anistiou.
Juscelino foi estadista em uma democracia sempre abalada por adversários políticos. Com a instalação do governo militar, JK, de olho nas eleições de 1965, aceitou votar no candidato indicado pelos militares, com a promessa de que as eleições seriam mantidas. Logo em seguida, teve o seu mandato cassado. Foi para o exílio, onde ficou até 1967. Em sua chegada, foi detido e levado para unidade militar por breve período. Libertado, foi para iniciativa privada e dedicou-se a um sítio localizado nas proximidades de Brasília.
Naquele dia de agosto de 1976, fora a São Paulo e voltava de carro para o Rio de Janeiro, quando o veículo foi atingido por um caminhão. Juscelino e Geraldo, seu amigo e condutor do veículo morreram no local.
Autoridades, preocupadas com a súbita e inusitada morte do ex-presidente, determinaram uma série de medidas com o intuito de evitar divulgações tendenciosas sobre o acidente, o que levou a boatos, indicando que a morte de JK teria sido provocada por um atentado.
As muitas versões repercutiram pelo país, causando insegurança nos meios militares. No entanto, quando das últimas homenagens ao “Presidente Bossa nova”, o governo foi impotente para reprimir a manifestação e a dor do povo.
O corpo de Juscelino foi carregado por cerca de 300 mil pessoas até o Campo da Esperança. O Brasil perdeu o seu maior presidente.
Passados tantos anos, candidatos a cargos majoritários prometem seguir os rumos propostos e implantados por Juscelino; poucos conseguem, por incapacidade, ou por desejarem só se aproveitar do poder.
Nesses tempos confusos e polarizados, é chegada a hora de fortalecermos a democracia e agirmos em busca do desenvolvimento atrasado, numa incrível incapacidade de fazer governos de um ano em 365 dias de progresso e paz.
Brasília, 21 de agosto de 2019.
Paulo Castelo Branco.