Desde que passou a atuar como advogado em Brasília, José Paulo Sepúlveda Pertence, mineiro de Sabará, gostava de trocar o dia pela noite. Sempre foi notívago. Trabalhava em casa até de manhã cedo e depois ia dormir. Na presidência do STF e do TSE ficou complicado esse sistema de vida. Tinha, com frequência, os pedidos de entrevista do “Bom dia Brasil”, da Tv Globo. O programa começava às 7 horas (horário de Brasília) mas o entrevistado tinha que estar no estúdio, no mínimo, com meia hora de antecedência. Eu morava no Lago Sul, ia para o apartamento do ministro na 313 Sul, pegava o carro 001, do STF ou do TSE, e ia com ele para os estúdios da Tv Globo no início da W3 Norte. Desde às 5 horas o meu celular não parava de tocar: aqui é da produção do Bom Dia Brasil. O ministro já acordou? Está a caminho”. Por volta das 6h10 saiamos da 313 Sul. O ministro olhava para mim e dizia: Tamanini, a essa hora da manhã quem tem que ser inteligente é o leiteiro. Não eu”. Rebelde, ele ainda aprontava comigo antes de chegar à emissora. Afrouxava a gravata, deixava ela bem torta. Eu ponderava: Se o senhor aparecer desse jeito na entrevista, quem estiver assistindo e me conhecer vai dizer: esse assessor não serve nem para avisar o ministro que a gravata está toda torta. Quem vai pagar o pato, sou eu. Muito a contragosto ele arrumava a gravata.