Considerado o maior músico do cinema brasileiro, Remo Usai morreu aos 93 anos, com um feito notável até hoje. Ao longo da carreira, compôs trilhas para mais de 100 filmes, dos sucessos de bilheteria como “O Trapalhão nas Minas do Rei Salomão” (1977) e “O Trapalhão na Arca de Noé” (1983), aos clássicos que melhor retrataram o Brasil, como “O Assalto ao Trem Pagador” (1962), de Roberto Faria, e “Mandacaru Vermelho” (1960) e “Boca de ouro” (1962), de Nelson Pereira dos Santos.
Nascido no Rio de Janeiro no dia 13 de maio de 1928, Remo nos últimos anos foi se esquecendo quem eram os filhos e netos. Só se lembrava da esposa Antônia e de um processo judicial que abriu em 1983, em busca do pagamento correto pela execução pública de suas obras nos filmes. “Ele não se esquecia disso. Ficou quase até o fim dizendo que foi a maior frustração da vida”.
A disputa judicial travada com o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) se arrastou por quase 40 anos, envolveu troca de advogados com conflitos de interesse e uma particular dificuldade em quantificar quanto Usai deveria receber pelos direitos autorais. “Não se sabia exatamente quantas pessoas tinham assistido aos filmes dele. Naquela época não existia bilhetagem eletrônica”, explica o advogado Marcel Silva Gladulich.
A saga teve fim apenas em 2021, quando o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro determinou em última instância o pagamento de cerca de R$ 3,5 milhões, referentes aos direitos autorais retroativos — processo que Gladulich diz ser histórico. “Remo foi o precursor na composição original para o audiovisual, isso não acontecia no Brasil. Um dos profissionais mais premiados não tinha dinheiro para pagar um plano de saúde e precisava da ajuda de amigos.”