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Da vida em caverna em Diamantina à escritora na Suécia

Nascida em Diamantina (MG) em 1983, mesma cidade onde nasceu um dos maiores presidentes da República do Brasil, Juscelino Kubistchek de Oliveira, a mineira Christina Rickardsson foi registrada no cartório de sua cidade com o nome Christiana Mara Coelho onde morou com sua mãe em uma caverna no Parque Estadual do Biribiri, reserva natural próxima à Diamantina. Após cinco anos elas foram expulsas do local e se mudaram para uma favela em São Paulo, onde Christina morou na rua, mendigou por comida e dinheiro, além de sofrer diversos abusos físicos e psicológicos. Com sete anos de idade ela e o irmão mais novo foram levados para um orfanato, e quando Christina tinha oito anos ela e o irmão foram adotados (contra a vontade de Christina e de sua mãe) e se mudaram para Vindeln, uma vila localizada no norte da Suécia em uma região chamada Västerbotten.

Ao oito anos, Christina Rickardsson foi adotada por um casal que a levou para a Suécia. O novo lar de Christina era Vindeln, um pequeno vilarejo de 2,5 mil habitantes situado no norte da Suécia, próximo à cidade de Umeå. E quando o inverno chegou, ela viu a neve pela primeira vez. “Havia nevado muito durante a noite, e quando acordei achei que nossa casa estava cercada por uma imensa nuvem branca. Eu não sabia o que era neve. Saí então de casa, quase sem nenhuma roupa, e me joguei naquele tapete branco que cobria o chão”, conta Christina. “Não sabia que a neve era fria, e comecei a gritar”, ela lembra. A mãe adotiva apressou-se em levá-la para um banho quente. Seu segundo choque aconteceu no dia em que os pais adotivos a levaram do orfanato, junto com o irmão Patriqui – que também ganhou um nome sueco, Patrik. “Eles me disseram no orfanato que eu seria adotada, mas ninguém me explicou o que aquilo realmente significava”, conta Christina. “Quando saímos do orfanato de mãos dadas com meus pais adotivos, vi que aquilo era real – aquelas pessoas estavam me levando embora.”

A vida de Christina se tornou mais segura na Suécia, mas o começo de sua adaptação foi difícil devido aos grandes choques culturais que surgiram. No início ela não se sentia em casa já que tudo era novo: a comida, os ambientes, a natureza, as pessoas, e também a língua falada pelas pessoas. Aos poucos Christiana acabou dando lugar à Christina, o que fez com que a adaptação ao estilo de vida sueco se tornasse mais fácil. A história das duas vidas de Christina se tornou um best-seller na cena literária da Suécia, com título dedicado às palavras da mãe. Sluta Aldrig Gå (Nunca Pare de Caminhar), livro de estreia da autora brasileira que já não fala o português, será lançado no Brasil ainda neste semestre pela editora Novo Conceito, com tradução de Fernanda Sarmatz Åkesson. Junto com o livro, aos 33 anos, Christina Rickardsson também realizou outro sonho: criar uma fundação de assistência a crianças carentes no Brasil, a Coelho Growth Foundation.

Christina quer que seu trabalho ajude a aumentar a compreensão das pessoas sobre as diferenças, os preconceitos e sobre os conflitos culturais que existem no mundo, promovendo o diálogo, a tolerância e a abertura da sociedade. Ela quer que sua experiência de vida sirva como exemplo de como é importante promover a gantatir os direitos das crianças, tendo a Suécia e o Brasil como ponto de partida. Christina quer que sua história possa inspirar governos, empresas, organizações e pessoas possam trabalhar em conjunto e de maneira efetiva em ambientes multiculturais.

Atualmente existem cerca de sete milhões de crianças de rua no Brasil, e Christina acha importante chamar atenção não só para a situação em que elas se encontram, mas também para o fato de que essas crianças não terem voz própria. A escritora quer contribuir para que essa realidade mude e que todas as crianças possam viver em uma sociedade onde elas possam ter a oportunidade de ter uma infância segura e feliz, para que assim elas possam contribuir com a própria sociedade quando se tornarem adultas.