No município de Vassouras (RJ), Maria de Moura passou a maior parte de seus mais de 80 anos submetida a trabalho escravo. Na década de 1940, quando tinha apenas 12 anos, ela foi chamada para “morar e brincar” com as crianças da fazenda onde seus pais trabalhavam, porém, nunca pôde estudar e foi mantida como empregada doméstica dos donos da propriedade.
A vítima serviu ao menos três gerações da mesma família até seu resgate, em maio de 2022, quando foi encontrada na residência de André Luiz Mattos Maia Neumann e Yonne Mattos Maia, na capital fluminense. Os dois foram agora denunciados pelo MPF por submeter Maria a trabalho escravo, com jornadas exaustivas e não remuneradas, em condições degradantes e sem liberdade para sair do imóvel, que era mantido trancado.
Durante mais de sete décadas, ela foi afastada da família e impedida de construir vínculos pessoais. Seu telefone era controlado por André Mattos, que chegava a apagar o número dos parentes que raras vezes a telefonavam. Por ordem de Yonne, a vítima dormia em um precário sofá ao lado do quarto da matriarca para que exercesse a função de cuidadora em todos os momentos.
A investigação também revelou que o patrão retinha o documento de identidade e o cartão de banco da idosa, sacando seu benefício previdenciário. Além da condenação pelos crimes cometidos, o MPF quer que a família denunciada pague R$ 150 mil de indenização a Maria de Moura por danos morais, independentemente de outros valores que ela venha a receber pelos prejuízos patrimoniais sofridos.