O repórter Daniel Camargos, do jornal O Estado de Minas, publica matéria na edição de hoje (19) sob o título “Morte de JK rediscutida” informando que as circunstâncias da morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek voltarão a ser investigadas depois de 35 anos do acidente que o matou.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Seção Mineira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MG), Willian Santos, está concluindo um dossiê para entregar aos membros da Comissão da Verdade, criada nesta semana, e que vai apurar as violações aos direitos humanos cometidos entre 1946 e 1988, período que engloba os anos de chumbo da ditadura militar.
De acordo com Santos, os documentos serão entregues no início do próximo mês. Quem referenda a reabertura das investigações pela morte de JK é Serafim Jardim, secretário particular de Juscelino de 1967 até a data da morte do ex-presidente, em um acidente de carro na Rodovia Presidente Dutra, próximo a Resende (RJ). Jardim vasculhou todo o processo, as perícias, os depoimentos e não acredita que a morte do ex-presidente tenha sido uma fatalidade.
Serafim Jardim conseguiu viabilizar a exumação do corpo do motorista do Chevrolet Opala de JK, Geraldo Ribeiro. A exumação ocorreu em 1996, 20 anos após o acidente. Um objeto metálico foi encontrado no crânio de Geraldo, o que reforçou a teoria daqueles que acreditam em um atentado a bala como causa do acidente. Porém, o laudo apontou que o objeto metálico era um prego do caixão. A versão oficial é que o Opala foi fechado por um ônibus da Viação Cometa, perdeu a direção e se chocou com uma carreta.
O ex-secretário particular, que hoje comanda a Casa JK, em Diamantina, não se conforma e aponta ainda uma série de erros no inquérito, ampliados quando se leva em conta que o país vivia um regime de exceção. “Os três que formavam a Frente Ampla durante a ditadura morreram em circunstâncias estranhas”, afirma Serafim Jardim. Além de JK, ele se refere a Carlos Lacerda e ao ex-presidente João Goulart, sendo que os três morreram em um intervalo de nove meses.
Outro documento apresentado por Jardim, que será anexado ao dossiê da OAB-MG, é a carta do coronel chileno Manuel Contreras ao general de divisão João Baptista Figueiredo, que era chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI) em 1975. O documento discorre sobre a possibilidade de vitória do democrata Jimmy Carter nos EUA, o que influenciaria a “estabilidade no Cone Sul”. O general chileno cita que JK e o ex-ministro do exterior do governo do chileno Salvador Allende, Orlando Letelier, poderiam receber apoio. No ano seguinte, os dois morreram. A morte de Contreras foi atribuída ao serviço secreto liderado por Contreras, a Dina. JK morreu um mês antes, quando buscava restabelecer a democracia no Brasil.