O advogado Geraldo Pedrosa de Araújo Dias completa amanhã (12) 77 anos. Nascido em João Pessoa, na Paraíba, por este nome passa por mais um brasileiro mas quando é citado o seu nome artístico – Geraldo Vandré – é reconhecido como um dos principais cantores e compositores do país. Vandré – seu sobrenome é uma abreviatura do sobrenome do seu pai, José Vandregísilo – é autor de uma composição que se transformou em hino de resistência do movimento civil e estudantil que fazia oposição à ditadura durante o governo militar. Pra não dizer que não falei de flores, mais conhecida como Caminhando, foi apresentada por ele em 1968 durante o III Festival Internacional da Canção.
O Refrão “Vem, vamos embora / Que esperar não é saber / Quem sabe faz a hora, / Não espera acontecer” foi interpretado como uma chamada à luta armada contra os ditadores.
No festival, a música ficou em segundo lugar, perdendo para Sabiá, de Chico Buarque e Tom Jobim. A música Sabiá foi vaiada pelo público presente no festival, que bradava, exigindo que o prêmio viesse a ser da música de Geraldo Vandré. Ainda em 68, com a edição do Ato Institucional número 5, Caminhando foi censurada e Vandré, que ficara marcado por setores militares mais duros, saiu do país exilado e seguiu para o Chile e depois para França.
Faculdade de Direito
Vandré mudou-se para o Rio de Janeiro em 1951 e ingressou na Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pela qual se formou em 1961. Militante estudantil, participou ativamente do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE).Conheceu Carlos Lyra, que se tornou seu parceiro em músicas como “Quem Quiser Encontrar o Amor” e “Aruanda”, gravadas por Lyra. Gravou seu primeiro LP, “Geraldo Vandré”, em 1964, com as músicas “Fica Mal com Deus” e “Menino das Laranjas”, entre outras . Em 1966, chegou à final do Festival de Música Popular Brasileira da TV Record com o sucesso Disparada, interpretado por Jair Rodrigues. A canção arrebatou o primeiro lugar ao lado de A Banda, de Chico Buarque.
Hoje, Geraldo Vandré reside no centro da cidade de São Paulo, mas sempre viaja para o Rio de Janeiro ou Imbituba, no litoral sul de Santa Catarina. Em 12 de setembro de 2010 (dia de seu aniversário de 75 anos), Vandré concedeu no Clube de Aeronáutica no Rio de Janeiro uma polêmica entrevista[ ao jornalista Geneton Moraes Neto, onde critica o cenário cultural brasileiro desde os anos 1970 e afirma que seu afastamento da música popular não foi causado pela perseguição sofrida pela ditadura militar, mas sim pela falta de motivação para compor ao público brasileiro, vítima do processo de massificação cultural.
Pra não dizer que não falei de flores
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição
Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer