Direito Global
blog

Henri Clay e a ira santa

A radicalização do processo político em que o país mergulhou nos últimos anos assumiu uma proporção que, ao meu ver, passou a exigir uma ampliação do campo de atuação política para além da minha categoria profissional. A afirmação é do presidente licenciado da Seccional da OAB de Sergipe e candidato a uma vaga no Senado Federal pelo Partido Pátria Livre (PPL), Henri Clay Andrade. Aos 49 anos, há 25 advogado militante, natural de Lagarto, no interior do Estado, Henri Clay é um forte candidato a representar, a partir do próximo ano, Sergipe no Congresso Nacional.

Segundo ele, “a democracia está em jogo e considero que nada pode ser mais danoso ao país do que o esvaziamento e a destruição do Estado Social Democrático de Direito. A raiva generalizada da política e a rejeição aos políticos, como costumo dizer, é uma “ira santa” e, dessa forma, não pode ser capitalizada pelos que representam a própria negação da democracia”, disse o advogado em entrevista ao Jornal do Dia online.

O que o levou a ingressar na política partidária e disputar o mandato de senador?

Por mais de 25 anos exerço a advocacia, sempre na defesa do direito dos trabalhadores. Por 20 anos, desenvolvi funções de representação de classe, como dirigente da Ordem dos Advogados do Brasil. A radicalização do processo político em que o país mergulhou nos últimos anos assumiu uma proporção que, ao meu ver, passou a exigir uma ampliação do campo de atuação política para além da minha categoria profissional. Vivenciamos um momento de rejeição à política partidária tradicional. De forma contraditória, nosso déficit democrático histórico não foi alterado de modo substancial pela redemocratização. A grande maioria da população continuou alijada de uma participação mais efetiva na definição dos rumos de nosso país. A chegada de Temer à presidência aprofundou ainda mais essa sensação de ineficiência da política e de impotência do voto popular. Da imensa reprovação a esse sistema, podem emergir dois resultados: a negação da democracia e de todos os seus pressupostos ou a renovação das práticas e dos quadros políticos. Ingressar na disputa político-partidária, para mim, é assumir uma firme posição de respaldo à segunda opção. A democracia está em jogo e considero que nada pode ser mais danoso ao país do que o esvaziamento e a destruição do Estado Social Democrático de Direito. A raiva generalizada da política e a rejeição aos políticos, como costumo dizer, é uma “ira santa” e, dessa forma, não pode ser capitalizada pelos que representam a própria negação da democracia. Não podemos aceitar a associação do exercício da vida pública ao banditismo. Precisamos resgatar a esperança a partir da defesa intransigente da vida democrática e dos direitos das pessoas. Pesquisas apontam uma reprovação de cerca de 95% da população a Temer. A poucos meses do pleito eleitoral, é majoritária a intenção de se votar nulo ou branco. A maioria dos brasileiros não identifica no voto uma oportunidade de mudança dos rumos do país. Enfrentar essa realidade é o que me motiva a encarar, com toda a fé e esperança, essa pré-candidatura ao Senado.

Qual o critério usado pelo senhor para optar pelo PPL?

A defesa intransigente dos direitos do povo, posição que se expressa na luta pela soberania nacional, pela efetivação dos direitos sociais e pelas liberdades democráticas. Nossa sigla já traz, de forma direta, esse significado. O Partido Pátria Livre, que apresenta João Goulart Filho como pré-candidato à Presidência da República, afirma em seu programa esses princípios e mobiliza uma simbologia muito importante nesse momento da vida política brasileira. O processo de impeachment que levou Temer e seu grupo ao poder está desintegrando o país enquanto nação soberana, democrática e independente. Hoje, os poderosos encastelados em Brasília, sem qualquer legitimidade ou apoio popular, apressam-se para entregar o patrimônio nacional para os grandes grupos econômicos, nacionais e estrangeiros. A crise de combustíveis, que paralisou o país há alguns dias, é consequência direta dessa política de desmonte nacional e privatização. Temer e o Congresso Nacional atacam de forma permanente a democracia e os direitos da maioria do povo brasileiro. Direitos duramente conquistados. É espantoso como, em menos de dois anos, se tenha atentado tanto contra os interesses econômicos do país, contra os direitos dos mais vulneráveis, contra a classe trabalhadora. O nível de desemprego, que já beira incríveis 15%, a informalidade e a terceirização corroem o nível de vida da população e engessam nossa economia. Os trabalhadores que produzem a riqueza de nosso país estão submetidos a uma das maiores cargas tributárias do planeta, enquanto as grandes fortunas e os grandes especuladores financeiros seguem sem pagar impostos. Não é possível aceitar que seis brasileiros possuam a mesma riqueza que outros cem milhões de pessoas. O projeto político de defesa do desenvolvimento nacional e a defesa dos interesses populares, muito mais do que o número de parlamentares ou a estrutura partidária, definiram minha opção pelo PPL e seu programa.

Apesar das duas vagas existentes, o número de candidatos a senador é elevado. Isso não o preocupa?

Tenho a firme convicção de que uma das funções mais importantes do processo eleitoral desse ano é resgatar o debate político, a disputa em torno de projetos. A descrença generalizada a que já nos referimos indica que a população não aceita mais ser manipulada. Partidos não podem mais ser meramente uma vitrine para a “venda” de candidatos. O que realmente importa em uma democracia que se pretende participativa não é o número de candidaturas e nem a chance eleitoral de cada candidato. O fundamental, especialmente nesse pleito, é diferenciar politicamente essas candidaturas, a partir do debate aberto, da comparação, da disputa de ideias. Resgatar a democracia passa necessariamente por qualificar os processos eleitorais. O poder econômico e os esquemas tradicionais de controle do voto popular serão, mais do que nunca, colocados em xeque. Nossa pré-candidatura pretende somar-se decisivamente a esse processo de questionamento. Vivemos um esgotamento da velha forma de condução da política. Pluralidade de opiniões, de perfis e de visões são imprescindíveis para a reconstrução de nosso país. Nesse momento, o afloramento das diferenças apenas contribui para uma renovação de nosso ânimo democrático.