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43 anos sem JK

O artigo “43 anos sem JK” é de autoria jornalista e ex-Secretário de Estado da Cultura do Distrito Federal, Silvestre Gorgulho:

“Cada um é curador de sua própria história e da história de sua família e de sua Pátria. Na minha curadoria pessoal, gosto de dividir a História do Brasil em três grandes momentos: o Descobrimento, a vinda da Corte Portuguesa para o Rio de Janeiro (1808) e o governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira.

O Presidente JK, a seu modo, sacudiu a vida administrativa, política e cultural do Brasil. JK plantou hidroelétricas, plantou estradas, plantou bom humor e plantou compromissos: cumpriu todas as 31 metas prometidas durante sua campanha à Presidência da República. JK plantou indústria automobilística e plantou magnanimidade perdoando revoltosos e inimigos políticos. JK plantou Brasília.

O Brasil colheu um novo País do Centro-Oeste, do Cerrado e da Amazônia. O Brasil colheu efervescência cultural. O Brasil colheu a Primeira Copa do Mundo, colheu Bossa Nova e colheu alegria. O povo brasileiro colheu o sentimento de que é capaz construir o que parece impossível.

JK plantou democracia. E o Brasil colheu Paz!
JK plantou sonhos e esperanças, mas também colheu perseguição política, cassação, o exílio e, sem talvez, colheu também a morte.

Na data de amanha (22), em 1976, o Brasil dormiu um domingo triste. A notícia de que um Opala metálico, na altura do KM 165 da Via Dutra, próximo a Resende-RJ, atravessou a pista e bateu de frente com uma carreta com placa de Orleans-SC, pegou os brasileiros de surpresa. Um terrível pesadelo. Entre os ferros retorcidos estavam os corpos do ex-presidente Juscelino Kubistchek e de seu fiel motorista Geraldo Ribeiro. Lá se vão 36 anos de um acidente sempre mal explicado, mesmo porque nem perícia foi feita.

JK morreu a 21 dias de completar 74 anos. Se hoje lamentamos sua partida quando ainda tinha muito a oferecer ao Brasil, dia 12 de setembro temos que celebrar uma data de vida: os 117 anos de nascimento do ex-Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira.

O ex-Presidente foi um construtor de sonhos. No poder foi exemplo de empreendedorismo e generosidade. Fora do poder, foi exemplo de luta pela Democracia. E, no exílio, foi um brasileiro que só pensava em Brasil, usando até seu prestígio internacional para exaltar sua pátria e trazer investimentos para seu país.

Na Semana JK-2011, lançamos em Diamantina e Brasília o filme de Charles Cesconetto JK NO EXÍLIO. O documentário mostra como o homem que foi símbolo de democracia ao conviver com revoltas, críticas e perseguições e que governou com extrema magnanimidade, foi humilhado, cassado, exilado e difamado como detentor da sétima fortuna do mundo. Hipotética riqueza conseguida, evidentemente, com a construção de Brasília.

Os anos passaram. Hoje o Brasil inteiro percebe que JK não merecia tanta injustiça. Mas sua grande popularidade e sua pretensão de voltar à Presidência em 1965 (JK 65) impuseram-lhe uma perseguição implacável do regime militar.

O sofrimento do ex-Presidente começou dia 8 de junho de 1964, quando foi cassado seu mandato de senador por Goiás. Em 13 de junho, JK partiu para o exílio com uma declaração forte: “Deixo o Brasil porque esta é a melhor forma de exprimir meu protesto contra a violência política e moral”. E durante mil dias ficou exilado, vivendo em Paris, em Lisboa e Nova York.
Em Paris, tinha uma cozinheira que não deixava esquecer suas origens: dona Diamantina. Mas mesmo tendo Diamantina tão perto, não se sentia nada feliz e muito menos à vontade: “Não posso deixar de confessar que viver fora do meu País, sem saber quando será possível o regresso, é o castigo mais cruel imposto a um homem que só pensa no Brasil”, escreveu JK.

Por isto, relembrar e resgatar um pouco das histórias e dos sofrimentos pelos quais passaram JK é também um exercício de Democracia, uma lição de vida e, sempre, mais uma homenagem ao maior dos Presidentes da República do Brasil.

Ao repassar na memória esses momentos de JK, vale lembrar uma frase de Tancredo Neves quando discursou na Câmara em sua homenagem depois de sua morte: “O exílio é o preço que os grandes homens pagam para conseguir um lugar no coração do povo. Eles são supliciados, antes de serem glorificados. Mas o exílio realmente glorifica. Não há grande homem que não o tenha conhecido”.
E JK – o médico, o democrata, o magnânimo, o realizador, o seresteiro e o sonhador – teve que passar pela provação do exílio, antes de virar um Presidente nacionalmente admirado, exaltado e imitado como empreendedor e como político do bem.”