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Vandré, de Disparada a Caminhando

No próximo dia 12 de setembro completa 84 anos de idade o autor da música que marcou toda uma geração e se transformou em um hino da resistência estudantil ao regime militar que dominava o pais: “Prá não dizer que não falei das flores” ou Caminhando. Ele é Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, natural de Joao Pessoa, na Paraíba, cujo nome artístico é Geraldo Vandré. Outro sucesso do cantor foi a música Disparada.

Vandré chegou no Rio de Janeiro em 1951, então com 16 anos. Seis anos depois ingressou na na Faculdade de Direito da Universidade do Distrito Federal, pela qual se formou em 1961, quando esta passou a se chamar Universidade do Estado da Guanabara. Militante estudantil, participou do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Conheceu Carlos Lyra, que se tornou seu parceiro em inúmeras canções como “Quem Quiser Encontrar Amor” e “Aruanda”. Gravou seu primeiro LP, “Geraldo Vandré”, em 1964, com as músicas “Fica Mal com Deus” e “Menino das Laranjas”, entre outras. Em 1966, chegou à final do Festival de Música Popular Brasileira da TV Record com o sucesso da música Disparada (parceria com Théo de Barros), interpretado por Jair Rodrigues. A canção ficou em primeiro lugar ao lado de A Banda, de Chico Buarque.

Dois anos, em 1968, participou do III Festival Internacional da Canção da TV Globo com Pra não Dizer que não Falei das Flores, também conhecida como “Caminhando”. A composição se tornou um hino de resistência do movimento estudantil que fazia oposição à ditadura durante o governo militar, e foi censurada. O refrão “Vem, vamos embora / Que esperar não é saber / Quem sabe faz a hora, / Não espera acontecer” foi interpretado como uma chamada à luta armada contra os ditadores. No festival, a música ficou em segundo lugar, perdendo para Sabiá, de Chico Buarque e Tom Jobim. A música Sabiá foi vaiada pelo público presente no festival, que bradava exigindo que o prêmio viesse a ser da música de Geraldo Vandré.

Ainda em 1968, com o Ato Institucional 5 (AI 5)), Vandré foi obrigado a sair do país. Depois de passar dias escondido na fazenda de Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, viúva do escritor Guimarães Rosa, o compositor partiu para o Chile e, de lá, para a Argélia, Alemanha, Grécia, Áustria, Bulgária e França. Voltou ao Brasil em 1973, onde gravou apresentações para o programa de Flávio Cavalcanti e para o Fantástico, da TV Globo, mas foram censuradas.

Após o exílio, Vandré foi vigiado de perto pelos militares, sem poder expressar o retrato do Brasil à época. Logo após o retorno ao Brasil, Vandré compôs a canção “Fabiana”, em homenagem à Força Aérea Brasileira. Em 2015, em homenagem aos 80 anos do compositor, foram lançadas as biografias “Geraldo Vandré – Uma canção interrompida”, do jornalista Vitor Nuzzi e “Vandré: o homem que disse não”, do jornalista Jorge Fernando dos Santos.

Em março de 2018, Vandré se apresentou em João Pessoa, na Paraíba, onde nasceu, cantou Pra não dizer que não falei das flores, depois de 50 anos de silêncio. Há nove anos, Vandré, no dia em que comemorava o seu aniversário de 75 anos, concedeu no Clube da Aeronáutica, no Rio de Janeiro, uma polêmica entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto, na qual critica o cenário cultural brasileiro desde os anos 70 e afirma que seu afastamento da música popular não foi causado pela perseguição sofrida pela ditadura, mas sim pela falta de motivação para compor ao público brasileiro, vítima do processo de massificação cultural e histórica.

Geraldo Vandré abandonou a vida pública e se afastou do mundo artístico, atuando como advogado e servidor público. Hoje, Geraldo Vandré reside no centro da cidade de São Paulo. Casado com Bianca Beatriz, sempre viaja para o Rio de Janeiro.