A matéria é de autoria do jornalista Rui Figueiredo, que reside em Boa Vista, em Roraima:
“A campanha eleitoral de 2020 começou antes mesmo das convenções partidárias que vão escolher os candidatos a prefeito e a vereador. E Boa Vista mostra mais uma vez tendência de polarização entre um candidato apoiado pelo governador e pelo presidente da Assembleia Legislativa e o candidato da prefeita.
Ottaci Nascimento (SD) estreou na política pelas mãos do presidente do Legislativo, Jálser Renier. Era vice-prefeito de Alto Alegre até ser eleito deputado federal, em 2018, e agora é a aposta de um grupo que também reúne o governador Antônio Denárium (bolsonarista sem partido), 19 deputados estaduais e vários outros políticos.
O nome a ser batido por Ottaci também era um desconhecido do cenário político regional até bem pouco tempo. Arthur Henrique Machado (MDB) é o vice-prefeito de Teresa Surita, a maior expressão política do grupo que teve o ex-senador Romero Jucá como principal liderança até ser derrotado em 2018.
Os dois pré-candidatos já estão em campanha, assim como a maioria dos 14 outros pretendentes, apesar da vedação legal, sob o olhar desatento do Ministério Público e da Justiça Eleitoral, muito permissivos em Roraima, onde não é necessário furacão para boi voar e o cavalo do cão é anjo.
O eleitor, no geral, tem comportamento típico dos pequenos centros urbanos, das áreas menos desenvolvidas: vota seguindo a manada, nos que aparecem nas pesquisas com maior viabilidade eleitoral, representando grupos tradicionais da política, detentores de Poder.
O chamado “voto ideológico” tem ainda pouca expressão. O voto é no candidato do governador, do Jálser ou da Teresa. Ou ainda naquele que proporcionou alguma vantagem pessoal – conseguiu um emprego, fez algum favor – ou é visto como amigo.
Existem nomes correndo por fora na disputa que podem ter alguma chance, num cenário onde existem eleitores insatisfeitos com o governador e sem disposição para votar num candidato apoiado por ele. E também existem os que não votam em nome ligado ao presidente do Legislativo.
Jálser Renier é o político com mandato em Roraima que tem o maior poder de articulação e rapidez para decidir, mas passou a concentrar muito Poder e a atrair para si a imagem de que o interesse pessoal e negócios na política estão acima do interesse público.
Com isso, passou a ter maior rejeição.
No grupo Jucá, Teresa Surita reina solta. Ganhou fama de boa gestora, deixou Boa Vista uma cidade mais organizada, bonita e limpa, mas traz o peso da imagem ainda desgastada do ex-senador, um enriquecimento difícil de explicar do atual marido, Marcelo Guimarães, e a pouca simpatia dos servidores, que a têm como perseguidora.
Na balança, se valer o critério da transferência de votos, Teresa nadará de braçadas. Mas se pesar o fato de arriscar e apostar em tudo para eleger o prefeito, aí é Jálser quem dita a regra do jogo e nada os quatro estilos com margem de folga.
Como a decisão é do eleitor e também existem o elemento surpresa e a vontade de inovar, pode ser, numa hipótese muito remota, que surja uma terceira via, em que a aposta recaia sobre um nome novo ou de um político que venha demonstrando ou tenha demonstrado seriedade e disposição para um modelo de gestão diferente.