A qualidade do gramado do estádio Mário Filho, o Maracana, de tempos em tempos, é duramente criticada por atletas de ontem e de hoje, dirigentes, árbitros e jornalistas esportivos. Para saber as razões do péssimo estado do gramado para jogos profissionais de futebol o site direitoglobal.com.br fez três perguntas ex-craques do passado, árbitros, advogados e jornalistas de renome: Por que o gramado do Maracanã e tão ruim? Sempre foi assim? Grama sintética e a solução?
Seguem as respostas:
Renato “O Aranha Negra”- Goleiro da Seleção Brasileira na Copa da Alemanha em 1974, ex-goleiro do Flamengo, Fluminense, Atlético Mineiro e Bahia
-Sempre houve uma grande alternância. Ora, muito bom,bom,mais ou menos, péssimo. Depende do clima e da qualidade da manutenção. Difícil falar sobre a grama sintética. Joguei com a seleção na Argélia e depois nos Emirados Árabes. Parecia uma lona estendida com acolchoado embaixo. Travava o calçado e se você arrastasse o corpo queimava mais que brasa. Era péssimo. Horrível de jogar. Os de hoje, nunca entrei nem vi de perto. Não tenho como opinar.
Juca Kfouri – jornalista
– Porque é mal cuidado. Sempre foi assim. Países com climas hostis conseguem mantê-los ótimos sem grama artificial.
Edson Rezende de Oliveira – ex-árbitro da FIFA
– Geralmente não tem tempo para recuperação necessária. Hoje duas equipes profissionais do Rio mandam seus jogos no Maracana, Flamengo e Fluminense nas mais variadas competições q disputam , são muitos jogos q desgastam muito o gramado sem os devidos cuidados e tempo ideal para sua recuperação. Poucas vezes tivemos o prazer de ver o gramado do Maracanã bem cuidado com um piso adequado para desenvolvimento de um bom futebol. Sempre usado até com excessos de jogos. Quanto melhor o gramado, as condições para os jogadores desempenharem suas funções e mostrar suas boas técnicas também são ideais. Jogador tendo boas condições para atuar, com bons gramados, consequentemente produz boas jogadas, boas técnicas, se apresenta melhor e face isso comete menos infrações, menos erros , se irrita menos, o que faz produzir mais e reclamar menos com a arbitragem, facilitando também o trabalho dos árbitros. Gramados sintéticos possibilitam maiores facilidades para serem cuidados e conservados, mas exigem técnicas adequadas para sua instalação e manutenção. Se bem cuidados, com terrenos bem nivelados facilitam o bom futebol. Hoje se usa bastante o gramado misto, até porque somente o sintético leva algum tempo para os jogadores se adaptarem com ele.
Zé Roberto – ponta-esquerda campeão do Torneio de Cannes com a Seleção Brasileira Sub-20, em 1971. Defendeu na sua carreira profissional o Fluminense, Flamengo e o Santa Cruz, de Recife:
– As escadarias da Penha, o bonde de Santa Teresa, o bondinho do Pão de Açúcar, o doce balanço da garota de Ipanema a caminho do mar e o gramado do Maracanã. Não se trocam características de locais sagrados, tombados pelo povo carioca como orgulho e patrimonio de uma cidade maravilhosa. Quem jogou ali o quer fofo, as vezes baixo, com uma ressalva provocada pelo tablado que recebeu Franck Sinatra. Nele ficaram as marcas do milésimo gol, o drible de corpo do Romario no goleiro chileno, o elastico de Roberto Rivelino entre as pernas do Alcir r o chute mortal de Gighia sobre a prepotência nacional. Cobri-lo com grama sintética seria como cobrir a Praça do Vaticano para receber o ar condicionado. Dai nem Jesus estará mais ao lado do Papa. Deixa quieto. A história não perdoará um rimel sequer sobre o olhar de Mona Lisa.
Carlos Alberto Pintinho – ex-jogador da Seleção Brasileira, Fluminense, Vasco e Sevilha. Pintinho reside há quase 40 anos da Espanha
– Muy simples ! Deberían haber contratar personas que se sepueram haber cuidaros. La sintética para nuestra pelada.
Sergio Batalha Mendes – advogado
– O gramado do Maracanã é péssimo pelo descaso de sua atual administração. O Maracanã já teve um gramado excelente em tempos recentes, na época da Copa do Mundo, e era muito melhor quando a Suderj o administrava. No Rio de Janeiro, o gramado de São Januário é muito bom, mesmo com as dificuldades financeiras que afligem o Vasco da Gama. Não há lógica em se adotar a grama sintética no Brasil para o futebol profissional. Ela foi criada para climas extremos (muito frios ou secos), que dificultam a conservação do gramado. No entanto, a grama sintética acelera o jogo e altera algumas das características do futebol. O gramado ruim do Maracanã é um espelho de sua péssima administração a partir da privatização. O Estado do Rio deveria retomar sua administração e recuperar este patrimônio público do nosso povo.
Carlinhos – ex-lateral do Fluminense e irmão do saudoso Cleber, meio-campista da “Máquina” tricolor
– Amigo ! Na minha época não lembro de ter pego o gramado do Maracanã ruim , e olha que tinha preliminares, rodada dupla , etc … Não teria uma opinião exata sobre o motivo de estar tão ruim e sou contra a grama sintética para os estádios , pois perde a naturalidade , modifica os movimentos dos jogadores e também é mais propício para contusões !
Deni Menezes – jornalista
-O gramado do Maracanã nunca chegou a ser de boa qualidade, mas as condições foram piorando à medida que o calendário o submeteu a muitos jogos em intervalos curtos. Enquanto repórter de rádio, na época em que se tinha livre acesso ao campo, nos anos 60, 70, 80, já era possível observar. Os jogadores reclamavam, e não foram poucos os que torceram tornozelo em buracos. Quando chovia, as condições pioravam ainda mais. O sistema de drenagem era deficiente e foi ficando pior. No início dos anos 60, quando passei a trabalhar praticamente em todos os jogos, o Maracanã tinha preliminar, às 13h15, algumas até bem melhores que o jogo principal às 15h15, tanto que muitos chegavam cedo para ver, e às vezes, não ficavam até o fim do jogo principal. Tenho lembrança de que a equipe de engenharia, dirigida pelo doutor Ricardo Labre, no estádio desde a inauguração, trabalhava muito para melhorar as condições, sob constantes críticas, tanto dos jogadores quanto dos jornalistas. Fiz a cobertura de muitos jogos em gramados europeus, que inspiraram colegas de rádio da época a chamá-los de tapete. O exemplo mais citado era o do então chamado de Estádio Imperial de Wembley. A seleção teve permissão, um dia antes de amistoso com a Inglaterra, de treinar meia hora, de tênis. Ao fim do treino, Mozer, um dos bons zagueiros da época, me disse ser impossível qualquer comparação, mínima que fosse, com estádios brasileiros. Quanto ao gramado artificial, como o da Arena da Baixada, e depois o do Palmeiras, penso não ter havido ainda nenhum problema nem reclamação de jogadores. O que dizem é que a bola rola mais rápido.
Paulo Sérgio – goleiro da Seleção Brasileira na Copa de 1982 na Espanha, ex-goleiro do Fluminense e Botafogo
– Acho que o problema está no solo. Mas mesmo com esse possível problema, a empresa responsável já deveria ter tido um diagnóstico . Tem uma sombra da marquise que atrapalha mas não pode servir como desculpa. O Estádio do Mineirão tem um desenho semelhante e o gramado em ótimo estado. O gramado do Maracanã nunca foi excelente , era um piso duro , porém não era desnivelado como está agora. Existem gramados hoje nos principais Estádios com mistura de grama sintética e natural em estado excelente. Como exemplos o gramado do Itaquerão e o Kleber Andrade daqui do Espírito Santo. Seria uma boa solução.
Eraldo Leite – jornalista
– Esta é a pior época do ano para o gramado por causa da falta de sol naquele local, dizem os especialistas. Já testaram várias espécies de grama, mas nao acertam. Não gosto da ideia da grama sintética, ela tira a naturalidade do jogo, além de provocar mais torções de joelhos. A solução seria diminuir o número de jogos no estádio, o que é pouco provável de acontecer.
Faisca (Carlos Augusto Gonçalves Lopes) – jornalista
-Pouco sei sobre plantio e conservação de grama. Quando da Copa do Mundo nos Estados Unidos vimos locais com piso de concreto receberem blocos enormes de grama e se tornarem excelentes gramados em poucos dias. Naquela época, por aqui, nos campos tinham péssimos gramados. Era dito que bem gramado é simplesmente uma questão de GRANA. Quando trabalhava tínhamos épocas do Maracanã ter a gramado ótimo estado e em outras o gramado não era dos melhores. Sou totalmente contra o gramado sintético.
Roberto Bucar – funcionário público em Brasília e torcedor “doente” do Flamengo
– Não gostar de grama sintética é saudosismo bobo. Tem que ser gramado sintético. Tamana, tu tem muita penetração no meio futebolístico, faz uma pesquisa com alguns jogadores que atuam no Rio ,e fora do Rio. Eu acho que no máximo 5 jogos já estariam todos adaptados. Com a grama sintética de hoje em dia, o jogador mata mais fácil, dribla mais fácil, toca mais fácil , pode chutar de primeira, acelera o jogo. Ou seja: Sabe daquele cara que não gosta da Ferrari por que baixinha ? Pois é…