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O injustiçado Barbosa faria amanhã 100 anos

“No Brasil, a pena máxima (de prisão) é de 30 anos, mas pago há 40 por um crime que não cometi”, costumava dizer décadas depois do incidente o ídolo do Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, e que, até a fatídica data de 16 de julho de 1950, havia sofrido quatro gols em cinco jogos no Mundial. A seleção brasileira chegava à final com grande entusiasmo popular e um favoritismo quase inabalável, após ter marcado 21 gols e acumulado goleadas como a de 6 a 1 ante a Espanha e a de 7 a 1 contra a Suécia.

O ídolo, um dos maiores goleiros da história do futebol brasileiro, se chamava Moacir Barbosa e que amanhã, dia 27, se estivesse vivo, completaria um século de vida. O drama de Barbosa ocorreu na final da Copa do Mundo de 1950. Trinta e quatro minutos do segundo tempo. O empate daria o primeiro título ao Brasil. O ponta Gigghia da Seleção do Uruguai entra pela direita e, quase sem ângulo, não cruza, chuta para o gol.

A bola entra rasteira no canto esquerdo, apesar do esforço do goleiro brasileiro Barbosa. Uruguai 2 a 1, de virada. Silêncio e choro no recém-inaugurado Maracanã com quase 200 mil torcedores. Luto em todo o país. E o início de uma das maiores injustiças do futebol, que marca o destino de Barbosa, apontado como o maior culpado pela derrota.

Não foram poucas as vezes em que o ex-goleiro teve de enfrentar cobranças na rua após o episódio que entrou para a história como “Maracanazo”. Sobre uma delas, contou que uma mãe o apontou para o filho em um comércio e o identificou como “o homem que fez o Brasil chorar”. Em outra, disse ter sido interpelado de forma ríspida em um bar. “Aqui no Brasil ser vice-campeão do mundo não tem valor, não vale nada”, dizia, em meio a hábitos de vida simples e muito distante das fortunas proporcionadas atualmente pelo futebol.

Nelson Rodrigues (1912-1980), um dos maiores dramaturgos brasileiros, escreveu em 1959: “Quando se fala em 50, ninguém pensa num colapso geral. (…) O sujeito pensa em Barbosa, o sujeito descarrega em Barbosa a responsabilidade maciça, compacta, da derrota. (…) O brasileiro já se esqueceu da febre amarela, da vacina obrigatória, da (gripe) Espanhola, do assassinato de (senador) Pinheiro Machado. Mas o que ele não esquece, nem a tiro, é o chamado frango de Barbosa”.

Barbosa, nasceu em Campinas (SP) em 27 de março de 1921 faleceu em Praia Grande (SP) em 7 de abril de 2000).