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A tragédia em 1930 com trem tricolor

“O emocionante desastre na Serra de Therezopolis”. Essa foi a manchete da revista ‘O Malho’, para descrever o acidente, no dia 9 de março de 1930, envolvendo toda delegação tricolor. Era o começo da temporada e a equipe voltava de Teresópolis para o Rio de Janeiro de trem, meio de transporte muito popular à época, quando a locomotiva perdeu o controle e tombou, causando violento choque entre os vagões. Foram dezenas de feridos e oito mortos, incluindo o zagueiro do Fluminense, Jorge Tavares Py, nascido em Porto Alegre em 14 de novembro de 1898. Py jogou no Grêmio e no Fluminense.

A delegação tricolor retornava da cidade serrana após derrotar a equipe do União Football Club pelo placar de 5 a 1, no Estádio Jorge Pereira da Silva. Os gols da vitória foram marcados por Ivan Mariz e Preguinho (quatro vezes). A partida foi uma disputa única pelo “Troféu Cidade de Theresópolis”. No acidente, a composição se desgovernou e Py tentou acionar os freios do vagão onde se encontrava. Mas, na primeira curva, o trem deu um salto, batendo contra um barranco.

– Ouvi diversas vezes o nome do Jorge Py em minha casa. Certo dia, estávamos retornando para Teresópolis, em 1979. Houve um acidente de carro na estrada, ficamos no engarrafamento e o meu pai me contou que ali embaixo havia ocorrido a batida do trem. Ele tinha uma cicatriz no braço por conta do desastre. Ele costumava mostrar aos amigos, para falar da experiência – explica o cantor e compositor Ivan Mariz Filho, que herdou o mesmo nome do pai, Ivan Mariz.

A antiga revista ‘O Malho’ reconstituiu o acidente em suas páginas. “Às 17 horas de domingo deixou Therezopolis a composição. Dirigida pelo maquinista Manoel Virgilio e tendo como foguista Mario dos Santos. Os dois carros vinham repletos de passageiros, incluindo a delegação do Fluminense, que fora à cidade serrana a convite de um combinado local para uma partida amistosa. A composição descia a serra a princípio com lentidão, sustendo os dois carros, que pareciam funcionar rigorosamente e sem que nada fizesse prever a catástrofe. Quando menos se espera, e por motivo que ainda está sendo apurado, a locomotiva perdeu o controle da manobra, e já agora, sem poder conter o peso dos dois carros lotados, despenha-se serra abaixo, desgovernada. Momentos depois já não se continham mais, abafando as senhoras e as crianças, com os seus gritos de pavor, o barulho infernal da carreira desesperada do trem”.

Em outro trecho da matéria, a publicação descreve com minúcias de detalhes o momento exato do choque e suas consequências. “Alguns passageiros, dos menos calmos, correram às plataformas dos carros para se atirarem fora. Nesse momento chegou à composição a curva chamada ferradura, e a locomotiva, saltando dos trilhos, tombou de encontro a uma barreira, fazendo os carros entrechocarem-se violentamente. Lamentos doloridos e pedidos de socorro partiam de toda a parte. Oito mortos, algumas dezenas de feridos. A família mais atingida pela desgraça foi a do senhor Horacio Costa, estimado comerciante da nossa praça. Suas duas filhinhas, Vera e Aida, mortas de um modo trágico, esmagadas na engrenagem dos carros. Passados os primeiros momentos de estupor, os passageiros salvos foram a socorro dos companheiros de viagem”.

Segundo afirmou Ivan, o Fluminense honrou sua tradição e cumpriu seus compromissos à risca naquele ano, superando o abalo emocional que atingiu todos os atletas tricolores. “Meu pai comentou que o elenco decidiu, em uma reunião após o acidente, que iriam continuar honrando a camisa do Fluminense. O time continuou jogando, mas perdeu o foco, levando alguns anos para conseguir se erguer das cinzas, mas em 1936 a coisa mudou, Graças a Deus”, conta historiador, fazendo referência ao título do Campeonato Carioca de 1936, onde o Fluminense se tornou campeão em cima do Flamengo.

Dhaniel Cohen, do Flu-Memória, afirma que o acidente foi um dos momentos mais tristes da história do Fluminense, até por ter vitimado o zagueiro Jorge Py. “Abalado com a tragédia, o time não teve um bom desempenho no Campeonato Estadual, ficando em sexto lugar na classificação final. Ainda assim, quatro meses depois do desastre em Teresópolis, cinco atletas tricolores disputaram a Copa do Mundo de 1930, no Uruguai, a primeira da história. Veloso, Fernando, Fortes, Ivan Mariz e Preguinho defenderam a Seleção Brasileira na competição – conta Cohen.

Em 14 de julho de 1930, na estreia da Seleção Brasileira em Copas do Mundo, João Coelho Neto, mais conhecido como Preguinho, foi o capitão da equipe e autor do primeiro gol do Brasil na história dos Mundiais. Um multiatleta que além de jogar futebol, nadava e participava de corridas.

Em 13 de agosto de 1931, o Fluminense recebeu a “Taça Jorge Py”, após vencer por 3 a 2 uma partida realizada no Estádio das Laranjeiras entre o Fluminense e a Seleção da Federação Gaúcha em favor da família de Jorge Py. A renda foi revertida para o menino Milton, filho do atleta falecido. Os gols foram assinalados por Ivan Mariz, Demósthenes e Preguinho, tendo no apito Alarico Maciel.

Elenco do Fluminense em 1930:

GOLEIRO: Batalha, Veloso, Dalberto

DEFENSOR: Norival, Py, Delson, Telles, Fortes, David, Pinto, Drolhe, Eduardo Long, Alemão,

MEIA: Cabral, Fernando, Ivan, Cardoso, Albino, César, Vicente Caruso, Elói, Pontes, Délson, Jadir, Hermes, Carlos, Frota

ATACANTE: Ripper, Meireles, Alfredo, Preguinho, De Mori, Ary, Sálvyo, Waldemar, Guy, Ary, Azevedo, Zé Maria, Waldemar, Amaury, Loló

TÉCNICO: Luís Vinhaes (site do Fluminense)