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Herbert Richers, nome familiar da turma da antiga

Ministros do Judiciário, advogados e promotores conviveram durante muitos anos, na infância e na adolescência, com o nome de Herbert Richers. Ele foi um produtor de cinema e empresário brasileiro, radicado no Rio de Janeiro desde 1942, fundou oito anos mais tarde a empresa homônima Herbert Richers S.A., que começou no ramo de distribuição de filmes e depois se tornou o principal estúdio de dublagem da América Latina.

Herbert Richers, nascido em Araraquara (SP) em 11 de março de 1923, filho de Guilherme Richers e Maria Luísa Wulfes Herbert Richers se mudou para o Rio de Janeiro na década de 1940 para cursar a faculdade de engenharia. Para complementar sua renda, começou a trabalhar como fotógrafo em um estúdio de cinema, e isso levou-o em 1946 a conhecer Walt Disney, que veio gravar um documentário na cidade e contratou Richers como cinegrafista.

Logo se tornou amigo de Disney, e passou a frequentemente ir visitar seus estúdios em Los Angeles, inspirando-o a também se tornar produtor de cinema no Brasil. Inicialmente colaborou com a Atlântida Cinematográfica antes de fundar seu estúdio, Herbert Richers S.A. O imóvel ocupava o número 1.331 da Rua Conde de Bonfim, nop bairro da Usina, zona Norte do Rio de Janeiro, onde passou, além de produzir, fazer distribuições de filmes para serem exibidos nos cinemas.

Tendo conhecido o sistema de dublagem em Hollywood, decidiu utilizar o método de gravar áudio na pós-produção primeiro para contornar as limitações técnicas da captação de som brasileira, com produções como Sai de Baixo (1956) tendo todos os seus diálogos dublados. Logo esse conhecimento passou a ser aplicado nos filmes exibidos na TV, resolvendo o grande problema das legendas, quase ilegíveis para a tecnologia da época. A casa construída pelo empresário em Ribeirão Pires (SP) em 1957 e usada como set de filmagens para os filmes Papai Trapalhão e Golias contra o homem das bolinhas, foi tombada, em 2016, como patrimônio histórico municipal. Richers faleceu no bairro da Gávea (RJ) em 20 de novembro de 2009, vítima de insuficiência renal.

Herbert Richers foi um dos primeiros estúdios do tipo no Brasil. Em seus tempos áureos, chegava a dublar uma média de 150 horas de filmes por mês, o que correspondia a um total de 70% dos filmes veiculados nas salas de cinema do país.
Possuía um dos maiores estúdios de dublagem da América Latina com uma área de mais de 10 mil m² localizados na região da Usina, no bairro da Tijuca. Após a morte de Herbert Richers, em 2009, o estúdio encerrou suas atividades e o prédio foi vendido a um grupo de empresários por R$ 1,7 milhão.

O imóvel que abrigava o estúdio — abandonado desde 2009, quando seu fundador morreu — foi comprado pela Sukyo Mahikari, uma instituição religiosa japonesa, cujas raízes são comuns à Igreja Messiânica. Ao encontrar o imenso acervo que ainda permanecia no edifício, uma das representantes da igreja entrou em contato com a UFF para que o material ganhasse um destino apropriado. Milhares de negativos, películas, fitas e registros de ex-empregados foram transportados de caminhão para a Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM).

A morte lenta da Herbert Richers começou em 2003, quando, por meio de um acordo trabalhista, os dubladores passaram a poder gravar em outros estúdios, sem vínculo empregatício. A partir dali, várias outras empresas de dublagem — algumas abertas por ex-funcionários da HR — começaram a surgir no mercado, oferecendo serviços a preços bem mais baixos. O lucro do estúdio começou a cair em razão inversa aos gastos para manter a folha de pagamento dos cerca de 300 funcionários, todos com carteira assinada. A empresa passou a funcionar de forma deficitária — os depósitos de salários e do FGTS dos empregados começaram a atrasar, o que gerou várias ações trabalhistas.

Com o aumento de concorrentes em outras cidades que ofereciam trabalhos com preços menores, o estúdio teve o seu rendimento radicalmente diminuído. Houve tentativas de leiloar equipamentos para quitar várias dívidas, mas estas foram ineficientes, com o estúdio fechando as portas com 28 ações trabalhistas movidas por ex-funcionários, totalizando um valor estimado de 8 milhões de reais, o estúdio teve o imóvel penhorado e levado a leilão. Em 2 de novembro de 2012, o prédio foi atingido por um incêndio.