Advogado, delegado aposentado da Polícia Federal, Ivan Manoel de Oliveira, conhecido no mundo do futebol profissional como Badeco – ex-jogador do Corinthians, do América do Rio de Janeiro e da Portuguesa de Desportos – se notabilizou atuando no meio-campo ao lado de craques como Edu, irmão de Zico, do Flamengo. Badeco começou a jogar aos 16 anos no America Futebol Clube da cidade de Joinville, onde nasceu. Foi atleta profissional por 17 anos. Ele deixou o Timão para o América trocado pelo falecido ponta-esquerda Eduardo. Seu último clube foi o Esporte Clube Juventude, do Rio Grande do Sul, onde sofreu o rompimento do tendão do Aquiles, sendo obrigado a encerrar a carreira como atleta de futebol. O apelido Badeco veio de meu pai, Manuel Francisco de Oliveira, que foi um grande jogador do Joinville.
Reconhecido como um orgulho para os afrodescendentes do Brasil, Badeco tem uma história triste de racismo, ocorrida quando era apenas um menino na sua cidade Joinville, em Santa Catarina. Em 1953, então aluno do grupo escolar alemão Germano Timm, foi vítima de violento assédio moral de profundo constrangimento. Sentado em sua carteira e atento à aula, assim como outros trinta alunos, sendo dois negros, ele e o amigo Nori (Norival de Almeida)_ e 28 meninas e meninos branco, a maioria loiros e de olhos azuis_, o menino Ivan foi inesperadamente expulso da sala de aula, juntamente com o amigo Nori, outro único negro da classe. O motivo? É que, de costas para a sala de aula, a austera professora de origem alemã escrevia na lousa e, de repente, ouviu-se um barulhento pum.
– Foi apenas um pum e mesmo sem saber quem tinha sido, já que estava de costas, a professora resolveu me expulsar da sala juntamente com o Nori. Como ela poderia saber quem tinha sido? Eram trinta alunos na sala! Mesmo assim, a senhora disse: Pra fora você e você. E uma menina ainda a indagou. Professora, só foi um pum, por que dois são expulsos da sala? E a professora respondeu: É que eles (Badeco e Nori) fizeram ao mesmo tempo. E o curioso é que os dois únicos meninos negros sentavam-se nos extremos da sala de aula, portanto bem distantes um do outro. Como poderiam ter tamanho entrosamento? Nem Pelé e Coutinho! A história pegou muito mal na escola e na cidade e a professora foi obrigada a se retratar no dia seguinte. Os diretores do grupo escolar também pediram desculpas às famílias. Nunca me esqueci disso, conta Badeco. Claro que houve a intervenção enérgica imediata do meu pai cobrando da direção da escola uma providencia, e só foi atendido porque creio, ele era respeitado na cidade como um excelente e vitorioso jogador de futebol na época em Joinville.
Qual a sua opinião a respeito do racismo no Brasil?
O racismo estrutural é difícil de analisar pois efetivamente eu sofri em minha terra natal, pois a época tinha o salão de baile do branco e do preto e não podíamos entrar em alguns salões de dança, e eu somente consegui entrar quando vim jogar no Sport Clube Corinthians Paulista e voltei a cidade de Joinville de carro e com dinheiro no bolso. O racismo e um problema que somente as pessoas que passam por isso, podem dizer como é horrível e as pessoas ficam impotentes. Com tudo devem as pessoas negras lutar para que fatos de conteúdos raciais para que não aconteçam mais.
Como você na sua época, conseguiu conciliar o futebol com os Estudos?
Existia a época a resistência para jogar futebol e estudar, meus pais foram primordiais entre jogar futebol e estudar, quando eu tinha 16 anos um grande clube do futebol brasileiro queriam me contratar, onde estava quase tudo certo, quando meu Pai perguntou por 3 vezes se ele iriam pagar os meus estudos, e eles disseram que não , e com esta recusa ele pegou o contrato e o rasgou, e a argumentação do clube contratante e que eu iria ganhar muito bem e poderia pagar os estudos e o Sr. Manoel não concordou, e eu evidentemente comecei a chorar, e meu pai o Sr. Manoel fez a seguinte pergunta : Está passando fome? Depois eu entendi. Conciliar o futebol e os estudos, depois do episódio acima mencionado, raciocinei que o futebol não seria para sempre, e bom salientar que eu vi a situação de alguns jogadores da época morando geralmente embaixo das arquibancadas dos clubes, e eu não gostaria de passar por aquilo, bem como o final da carreira e horrível.