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SAF é bom ou ruim para os clubes de futebol ?

Vários clubes considerados da elite do futebol brasileiro têm optado pelo modelo de clube-empresa. Vasco, Botafogo, Bahia e Cruzeiro são alguns dos que já adotaram esse formato de administração. Grandes clubes da Europa como Paris Saint-Germain, Manchester City e Chelsea foram alguns dos pioneiros que se tornaram sociedades anônimas e cresceram financeiramente. O site direitoglobal.com.br ouviu diversas personalidades, como ministros, empresários, advogados e jogadores de futebol sobre a Sociedade Anônima do Futebol (SAF).

Ministro aposentado do STF, torcedor do Flamengo, Marco Aurélio Mello – Sou a favor. Dá ao futebol organização empresarial. É positivo considerado o montante financeiro envolvido.

Ministro aposentado do TST, primeira ministro negro do Judiciário em Brasília, torcedor do América Mineiro- Plenamente de acordo com o Ministro. Guilherme Caputo. A SAF deve ser para profissionalizar o futebol, inclusive para dar maiores garantias aos profissionais que os constroem( atletas, técnicos, preparadores físicos. médicos, psicólogos, etc). Observo, também, que há de se buscar o aperfeiçoamento da legislação. Destaco, mais, que devem se redobrar os cuidados para evitar os aventureiros, sem compromisso com a instituição.

Jornalista Juca Kfouri – Completamente a favor e há anos venho não só escrevendo a favor como publicando os artigos de quem formulou o texto da lei, o advogado Rodrigo R. Monteiro de Barros. A SAF não é panaceia, mas é o melhor caminho para quase todos os clubes brasileiros.

Jornalista e radialista Deni Menezes, um dos maiores repórteres esportivos do pais,  torcedor do Fluminense – Se os gestores adotarem nos clubes brasileiros o modelo inglês, referência da Europa, podem ser bem-sucedidos, mas é preciso que contem com profissionais preparados para a função, que exige visão e inteligência. Os clubes brasileiros têm dívidas que remontam quase ao século passado, o que dificulta muito. A ideia da SAF é boa, mas não se pode esperar que tenha resultados positivos alcançados em pouco tempo.

Jornalista e radialista Eraldo Leite – Acho que as SAFs vieram pra ficar e a do Botafogo me parece sólida. A gente aqui, no país do futebol, não está acostumado com esse modelo e leva tudo no embalo da paixão pelo clube. Mas trata-se de um negócio e todo investidor sabe que o retorno não é imediato. Eles (os empresários americanos, árabes, etc.) não pensam como nós. Vamos viver esse choque por um bom tempo. Se eu acho o modelo ideal? Não acho. Prefiro os modelos do Flamengo e do Palmeiras, por exemplo. Que são distintos um do outro, mas estão se mostrando vitoriosos. As SAFs precisam de tempo e de conquistas de títulos para se afirmarem. Mas esse parece um caminho sem volta.

Empresário Rubens Menin (dono da MRV Engenharia), torcedor do Atlético Mineiro – Sou sim. Vai ser uma mudança no futebol brasileiro. Para melhor.

Advogado José Murilo Procópio,  vice-presidente do Clube Atlético Mineiro – Estou de pleno acordo com o que o ministro Caputo opinou. O Atlético Mineiro está em processo de SAF. Em razão de ser seu Vice Presidente assinei acordo de confidencialidade  onde não posso expressar opinião ou manifestação sobre SAF.

Advogado Roberto Busato, ex-presidente nacional da OAB e torcedor do Botafogo e Athlético Paranaense Sou contra a Lei que criou a SAF pois pretende “comercializar a paixão”. É fonte de vários episódios desagradáveis do mundo todo. Os maiores clubes do planeta foram “comprados” por fundos soberanos que não respeitam a Lei do Far play, pagando grandes fortunas aos seus atletas ou por máfias que detém os clubes mais valiosos da terra. O Brasil segue este exemplo desagradável de domínio financeiro sobre a paixão dos brasileiros.

Advogado José Francisco Siqueira Neto, torcedor do Santos – Não sou contra, mas não acho que é a solução pra tudo. Se fosse influente em alguma “marca” importante do futebol, faria de tudo pra deixar no clube o comando. Mas a governança do futebol precisaria de uma repaginação radical.

Advogado Sergio Batalha, torcedor do Vasco da Gama – Bom dia, amigo Tamanini. Sou contra o modelo da SAF, pois ela transforma o clube de futebol em uma empresa com um dono. A gestão passa a buscar unicamente o lucro, especialmente com a compra e venda de jogadores, deixando o desempenho esportivo em segundo plano. Não por acaso, os principais clubes da Série A não se tornaram SAF. O modelo que eu defendo seria um contrato de gestão por tempo determinado, com metas esportivas e financeiras, que mantivesse o vínculo do clube com os seus associados e torcedores.

Advogado Nicola Manna Piraíno,  torcedor do Fluminense – A SAF é um avanço, não restam dúvidas, mas qual é o real comprometimento dos novos gestores? Não basta assumir os clubes, para fazer grandes negócios com os jogadores, principalmente os jovens da base, mas, obrigatoriamente, é preciso preservar a história das agremiações e seu patrimônio, como um todo. No caso do Cruzeiro, foi prometido um aporte de mais quatrocentos milhões no clube, pelo novo gestor, Ronaldo Nazário, mas, com o tempo o valor investido foi de alguns poucos milhões de reais, sem falar da Toca I e II, que não estariam contempladas na SAF, mas que também  passaram para o patrimônio do Ronaldo.

Subprocuradora-Geral do Trabalho Sandra Lia, torcedora do Corinthians – Como torcedora, vejo uma oportunidade de profissionalização do futebol, que pode gerar uma maior competitividade, por também abranger times “pequenos”. Futebol só tem graça com muitos times fortes. Por outro lado, é fundamental que a legislação proteja os trabalhadores, não apenas os jogadores, mas todos aqueles que também trabalham para os times, para que tenham todos seus direitos garantidos.
José Roberto Lopes Padilha, o Zé Roberto, ex-jogador do Fluminense, Flamengo, Santa Cruz (PE) e Seleção Brasileira de Novos e torcedor do Fluminense  – No final, fica a estátua, vai-se o exemplo. Roberto Dinamite é o símbolo do Vasco. Um clube querido que traz nas suas origens o legado dos  nossos colonizadores. Pedro Álvares Cabral nos encontrou e devemos a eles não apenas a linguagem, as padarias, a exaltação às mulatas nativas, mas também ter criado uma associação esportiva simpática e vitoriosa. Já o SAF entra na história do Brasil como uma  daquelas naus piratas que  um dia vieram  buscar nossas  riquezas. Holandeses, ingleses, franceses e até nosso vizinho, Francisco Solano Lopez, quis levar uma beirada da gente. Nossa maior matéria prima, os jogadores de futebol, se juntaram ao pau-brasil, ao açúcar, a borracha, ao café e os diamantes e foram tornar o mundo mais feliz.  Já o SAF não. O maior estrago causado pelos  SAFs com nossas origens desportivas  é que o último lugar que eles visitam, nos clubes que assumem, é o salão de troféus. Seus gestores pouco se importam com suas salas da memória. Seus arquivos de lutas, conquistas e glórias. Vão direto ao caixa. E por lá ficam, respiram e vão buscar lucros. Phoda-se se o Botafogo precisar do Jefinho, temos o Lion, que seu treinador espere o Matheus Nascimento crescer. Que se deixe de lado as fotos de Nilton Santos, Garrincha e Jairzinho e coloca-se a foto do presidente do Banco Central, Campos Neto. nos salões já não tão nobres. E assim vai se apagando a história de uma estrela solitária em prol do lucro financeiro para poucos. E assim, Roberto Dinamite, vê todo seu exemplo de amor ao clube, não ao caixa, ser concretado. Na verdade, a história, implacável, nos lembrará  que tudo ocorreu debaixo do nosso descaso. Da  nossa mais completa omissão. Que meu Fluminense resista. Por Castilho, Preguinho, Pindaro e Pinheiro.