O advogado, cantor, compositor e poeta Geraldo Pedrosa de Araújo Dias – mais conhecido como Geraldo Vandré – completa hoje (12.09) 88 anos. Seu nome artístico é uma abreviação do sobre nome de seu pai, o médico otorrinolaringologista José Vandregíseto. Vandré nasceu em João Pessoa, na Paraíba. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1951, tendo ingressado em 1957 na Universidade do Distrito Federal, pela qual se formou em 1961, quando esta passou a se chamar Universidade do Estado da Guanabara (hoje Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Tornou-se funcionário da COFAP (sucedida em 1962 pela SUNAB). Militante estudantil, participou do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Em 1966, chegou à final do Festival de Música Popular Brasileira da TV Record com o sucesso da música Disparada (parceria com Théo de Barros), interpretada por Jair Rodrigues. A canção arrebatou o primeiro lugar ao lado de A Banda, de Chico Buarque. Em 1968, participou do III Festival Internacional da Canção da TV Globo com Pra não Dizer que não Falei de Flores, também conhecida como “Caminhando”. A composição se tornou um hino de resistência do movimento estudantil que fazia oposição à ditadura durante o governo militar, e foi censurada. O refrão “Vem, vamos embora / Que esperar não é saber / Quem sabe faz a hora, / Não espera acontecer” foi erroneamente interpretado pelos militares como uma chamada à luta armada contra os ditadores, o que levou a sua perseguição política. No festival, a música ficou em segundo lugar, perdendo para Sabiá, de Chico Buarque e Tom Jobim. A música Sabiá foi vaiada pelo público presente no festival, que bradava exigindo que o prêmio viesse a ser da música de Geraldo Vandré.
Em março de 2018, Vandré se apresentou em João Pessoa, sua cidade natal,depois de 50 anos de silêncio. Acompanhado da Orquestra Sinfônica da Paraíba (OSPB), cantou Pra não dizer que não falei de flores e fez homenagens às Forças Armadas. No mês seguinte, Vandré publicou o livro de poemas Poética, produzido durante seu exílio no Chile, em 1973. A obra, originalmente intitulada Cantos Intermediários de Benvirá, foi lançada na Academia Paraibana de Letras.
Em 2015, o brilhante jornalista Vitor Nuzzi lançou o livro Uma Canção Interrompida, obra que retrata um dos personagens mais controversos da música brasileira. O livro Geraldo Vandré descreve a vida do cantor e compositor paraibano com um amplo levantamento da curta carreira do músico, sua vida no exílio e a volta para o Brasil, além da ação da censura sobre este que foi um dos artistas mais visados pela ditadura, criando lendas sobre a loucura e torturas impostas ao músico. Lendas que prejudicaram o conhecimento de sua obra. A publicação mostra ainda detalhes de como a repressão prejudicou o trabalho de Vandré, principalmente em seu retorno, em 1973. O artista nunca mais se apresentou e nem gravou em seu país. Hoje com 88 anos, Geraldo Vandré é lembrado principalmente por suas participações nos festivais dos anos 60 apresentando sucessos como Porta Estandarte, Disparada e Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores (Caminhando), sua canção mais emblemática, um hino jamais esquecido.