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O primeiro professor de Direito

O artigo O primeiro professor de Direito é de autoria do ex-presidente da OAB Nacional e da OAB de Sergipe, Cezar Britto;

“O meu primeiro professor de direito atendia por vários nomes. Ele era chamado de pai, avô, bisavô, tio, primo, sogro, amigo, doutor, professor, poeta e sombra de todos que conviveram com ele. Homem de gestos simples, não se relacionava com as pessoas em razão dos cargos ou títulos, mesmo porque a vaidade e a arrogância eram palavras que não constavam de seu vasto dicionário de gestos e palavras. Mesmo sendo tímido, ele era mestre na arte de escrever e cunhar frases primorosas, característica de um bem humorado frasista que marcou muitos de nós. Este personagem marcante era conhecido carinhosamente pelo nome Dr. Brittinho, um homem que passou pela vida sem que os cargos destruíssem a beleza de sua história.

Juiz de direito por vocação, nos bons tempos em que os magistrados residiam e conviviam com os cidadãos de suas comarcas, acreditava que sua função não era a de ser uma autoridade inquestionável, mas, sobretudo, a de ser o amigo-conselheiro da cidade. O tempo e a política interna do Tribunal de Justiça, entretanto, não lhe premiaram com a sonhada desembargadoria. Eu não conheci a fase juiz do meu avô. Apenas sabia dela por ouvir dizer. E diziam que a palavra dele era a melhor das sentenças. Orgulhava-se ele de que nenhuma houvera sido reformada.

Eu convivi apenas com o meu avô advogado. Eu ainda era menino quando a aposentadoria lhe devolveu a paixão pela advocacia, profissão que exercia no escritório em que fora transformada a sua própria residência. A casa em que morava era de dois pavimentos, sendo o seu gabinete no segundo piso. Assim, todos que queriam consultá-lo entravam na casa, ocupando parte considerável do primeiro pavimento. Não raro uma enorme fila de feirantes que queriam o seu aconselhamento ou mesmo uma decisão de arbitragem. A sua fama de homem honesto e justo era o que atraia aquela multidão de pessoas. A gratuidade dos serviços também, pois quase não cobrava das pessoas, especialmente os pobres”.