Domingos Franciulli Neto foi um ministro muito austero e respeitado entre seus pares no Superior Tribunal de Justiça. Ex-presidente do STJ e seu contemporâneo de magistratura, Paulo Costa Leite, o considerava “um dos juízes mais exempares” que já conheceu.
Certo ocasião, o chefe da Assessoria de Imprensa do Tribunal (2000-20020) Irineu Tamanini foi apresentar ao ministro Franciulli um novo reporter da repartição, e aproveitou para solicitar uma entrevista. Como ocorre nessas ocasiões, o ministro pediu café para todos e – fumanete inveterado que era – começou a soltar longas baforadas que produziam no ar espirais em meio à fumacinha expelida pelo aparelho umidificador, imprescindível na seca de Brasília.
Franciulli começou então a fazer digressões sobre a “carga descomunal de trabalho do magistrado”, pedindo atenção especial dos jornalistas para a divulgação desse fato. Quis ilustrar suas afirmações com alguns quadros e gráficos que informou dispor no computador. Mas, por mais que mexesse no mause, não conseguia exibir os documentos. Chamou o secretário e reclamou que sua senha não estava sendo reconhecida. Foi-lhe dada a senha correta, ele mexeu e mexeu e nada.
Irineu Tamanini, enérgico e impaciente como sempre, pediu licença ao ministro para sair:
-Ministro, eu estou enrolado e preciso providenciar ainda muitas coisas, vou deixar o repórter aqui o repórter com o senhor…
Frainciulli atalhou:
-Não, não, meu caro. Eu não sou enrolado não; não sou enrolado… Já já eu acho aqui esses números, e vou lhe mostrar. Só não estou acertando com a senha – disse o ministro, entre novas mexidas no mouse e baforadas no cigarro que impregnava todo o ar na sala.
Os jornalistas se entreolhavam. À saída, às gargalhadas, Tamanini observou ao colega:
-Que figura o ministro Franciulli! E eu sou lá louco para chamá-lo de enrolado!