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Dener, esse era craque de verdade

O estudante de Direito e empresário Dener Matheus Gabino de Sousa não tem lembranças do pai, morto em abril de 1994, em acidente de carro na Lagoa Rodrigo de Freitas, quando tinha apenas quatro meses de idade. Ele é o filho mais novo de Dener Augusto de Sousa, ou simplesmente Dener, craque do futebol cuja carreira em ascensão foi interrompida de forma trágica aos 23 anos.

No dia 18 de abril de 1994 o Mitsubishi Eclipse cupê branco ano de 1992 placa de São Paulo DNR-0010 – do então camisa 10 vascaíno – ele atuou ainda na Portuguesa de Desportos e Grêmio de Porto Alegre – bateu em uma árvore na Lagoa, após motorista Otto Gomes de Miranda não conseguir fazer uma curva. O atleta dormia no banco do carona e morreu estrangulado pelo cinto de segurança. Hoje com 26 anos, Dener Matheus tem um sonho: resgatar o esportivo para restaurá-lo e produzir um documentário de todo o processo, intercalado com depoimentos de ex-colegas do pai – e, se possível, com cenas da carreira do meio-campista.

Dener Matheus acreditava que o veículo tinha sido leiloado, mas descobriu que o veículo permanece guardado todos esses anos em um depósito ao lado do Estádio São Januário, no Rio de Janeiro. Pouco depois do acidente fatal, José Luís Moreira, atual vice-presidente de Futebol do Vasco, tornou-se guardião legal do Mitsubishi, que ainda estaria registrado em nome da Portuguesa – clube onde Dener iniciou a carreira e que era dono dos direitos econômicos do jogador quando ele faleceu. O atleta recebeu o veículo do clube paulista como luvas na renovação de contrato – na ocasião do acidente, Dener estava emprestado ao Vasco.

Dener Matheus pretendo passar a documentação do carro para o seu nome. “Minha expectativa é de resgatar o Eclipse até o fim de julho”, relata o filho do ex-jgador, que é casado e mora na capital paulista, onde nasceu. Ele conta com a assistência jurídica do escritório RSZM, onde trabalha, para trazer o carro de volta à família. Denner era casado com Luciana Gambino e tinha ainda mais dois filhos: Felipe Augusto Gabino de Souza e Denis Henrique.

“Quero deixar o Eclipse do jeito como era antes do acidente, todo original, para manter viva a memória do meu pai. Quero deixar de lado o fato de que ele morreu nesse veículo e focar as coisas boas, o amor que ele tinha pelo carro, pela família e, claro, pelo futebol”.

Dener morreu dia 19 de abril, dois meses antes da estreia da Seleção na Copa de 1994, contra a Rússia. Nunca havia sido convocado por Carlos Alberto Parreira. Na seleção principal, apenas Falcão convocara Dener em 1991, na esteira do sucesso na Copinha. Porém, Parreira deu brechas para o jogador sonhar com a convocação. Em reportagem do Jornal do Brasil de 2 de feveiro de 1994, o treinador da seleção dizia que “as arrancadas dele são sensacionais…. Já vi que terei problemas para convocar a seleção”, dizia Parreira. Dener, por sua vez, brincava com a chance: “Se eu arrebentar no Estadual e o Vasco for tricampeão não vai ter jeito de o homem dizer não. Grupo fechado só o Grupo Votorantim”.

O confronto na semifinal da Copa do Brasil de 1993 contra o Flamengo, de Junior, também virou anedota lendária da irreverência do craque. – Ele dizia para o Junior: “Vem, vovô, vem me pegar, vovô”. Não respeitava – conta Eddie Muprhy, barbeiro amigo de Dener e dos jogadores de São Paulo na época, conhecido como Eddie Murhy e que conta boas histórias sobre Dener até hoje.

De temperamento difícil, Dener se criou nas ruas da periferia de São Paulo e chegou a ser detido quando tinha 16 anos. Foi no dia 17 de outubro de 1987. Ele e mais cinco foram encaminhados para a 9ª Delegacia de Polícia de Carandirú, na Zona Norte da capital paulista. Nos arquivos do processo no judiciário de São Paulo, o boletim descrevia que “o menor foi orientado e advertido e convidado para uma vez por mês aparecer na Divisão de Apoio ao Menor na Comunidade Posto Norte. Frente ao exposto, considerando que o menor é primário, não denota vivência infracional, pareceu-nos sincero no discorrer de seu relato de que não participou do ato de furtos e danos, demonstra ser oriundo de família de boa índole, onde os membros são ativos. Não permaneceu em nenhuma unidade da FEBEM”.

O pai de Dener se chamava Wilson Penteado de Souza, que foi casado com a mãe de Dener, dora Vera Lucia Rodrigues de Souza, mas o pai mal conheceu o jogador. A família tem poucas referências e a figura paterna foi preenchida pelo avô de Dener, seu José Lourenço, que era torcedor do Corinthians fanático.