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Memorial das Terras do Fanado

A Câmara Municipal de Minas Novas, no Alto Jequitinhonha, em Minas Gerais, aprovou, por unanimidade, o projeto de lei número 44/2020, criando o “Memorial das Terras do Fanado”, com sede no Solar do Inconfidente Domingos de Abreu Vieira, mais conhecido como Solar da Família do saudoso senador da República, Murilo Paulino Badaró. O Memorial terá como objetivo contar e salvaguardar a memória e a história do pais das Minas Novas. O Memorial será representado pelo filho do senador, o economista, ambientalista e empresário, Murilo Prado Badaró em regime de comodato ao município.

A prefeitura municipal de Minas Novas, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Comunicação, organizará, inventariará, captará doações de peças, livros e documentos históricos, assumindo o compromisso de conservar e preservar o antigo Solar do Largo das Cavalhadas, atual praça Doutor Badaró Júnior, e seu acervo. Abrirá, também, espaço do Memorial ao povo das Terras do Fanado, proporcionando aos cidadãos uma tomada de consciência da necessidade de salvaguardar esse valioso patrimônio.

Segundo Murilo Prado Badaró, se o cidadão tiver esta consciência do valor do seu patrimônio, zelará pela sua salvaguarda porque, como diz o ditado popular, só se gosta daquilo que se conhece. Em suma, o memorial gerará saberes específicos no âmbito do espaço, tempo, público e coleção, num exercício do poder da memória. O “ Memorial das Terras do Fanado” terá como missão promover, salvaguardar, valorizar, proteger e dinamizar o Patrimônio Histórico Cultural Minas-novense em todas as suas vertentes: arquitetônico, histórico, social, desenvolvimento sustentado, valorização das identidades e memórias coletivas locais, bem como o fomento do turismo.

História

A cidade de Minas Novas recebeu uma forte influência dos cristãos-novos portugueses, que para lá imigraram por ocasião do ciclo do ouro e da rica mineração na região. Essa cidade era também popularmente conhecida como “Vila dos Fanados”, que quer dizer “mutilados ou circuncidados, e também degredados”. Isso pela relevante presença dos Cristãos-Novos.

Por desvio de informação mais precisamente na época da colonização do Brasil, diversas pessoas foram “degredadas” (somente com a alcunha de degredados) para a colônia, simplesmente por serem contrárias aos dogmas da igreja católica e os termos da santa inquisição católica. Eram os cristãos-novos e os criptojudeus.

Na Bandeira de 1674, Fernão Dias Paes Leme e sua comitiva – formada por diversos cristãos-novos, sendo ele também um – chegaram ao vale do rio Jequitinhonha, nas proximidades de onde hoje é a cidade de Araçuaí. É por onde corre o rio Fanado, pequeno afluente do rio Araçuaí, que por sua vez é o principal afluente do Jequitinhonha.

Naquelas terras, o valoroso bandeirante achou que tinha descoberto o que procurava, as decantadas pedras verdes, as cobiçadas esmeraldas. Entretanto, ledo engano, encontrara as não menos belas, porém menos valiosas turmalinas. Fernão Dias faleceu considerando que eram esmeraldas.

Por volta de 1727, um grupo de bandeirantes chefiados por Sebastião Leme do Prado, localizou a ocorrência de ouro em um dos afluentes do Rio Fanado que, por essa razão, recebeu o nome de Bom Sucesso. A notícia de grandes jazidas atraiu os faiscadores.

Entre o Rio Fanado e o seu afluente Bom Sucesso, formou-se o primeiro núcleo populacional, em torno de uma capelinha, erigida em homenagem a São Pedro. Assim nasceu o Arraial de São Pedro do Fanado, que rapidamente prosperou, recebendo, dois anos depois, o título de Vila do Bom Sucesso do Fanado de Minas Novas.

Existe também em Minas Novas um dialeto somente utilizado naquela região com o nome de “Dicionário do Fanadês”, falado ainda hoje por alguns por alguns moradores. O dicionário foi publicado há uns dez anos pelo Instituto Sociocultural Vale Mais, que cuida de preservar as tradições do Vale do Rio Jequitinhonha, na qual está inserida o Rio Fanado e as cidades de Minas Novas e Francisco Badaró.

Senador

O saudoso senador Murilo Paulino Badaró nasceu em Minas Novas em 13 de setembro de 1931, vindo a falecer, na capital do estado, em 14 de junho de 2010. Foi , além de senador, ministro da Indústria e do Comércio no governo do presidente João Figueiredo, e advogado, escritor e exímio orador. Com a morte de Vivaldi Moreira, pai do jornalista Pedro Rogério, Murilo Paulino Badaró foi eleito, em 1998, presidente da Academia Mineira de Letras, presidência que perdurou até sua morte, em 14 de junho de 2010, vítima de infarto fulminante no coração.