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“Sem vacinação, não há salvação”

Por Henri Clay Andrade, advogado e ex-presidente da OAB de Sergipe: “Hoje faz um ano do primeiro diagnóstico de pessoa contaminada pela Covid-19 no Brasil. Ontem, 25 de fevereiro, chegamos ao cume de 1.582 mortes registradas, em apenas 24 horas. Em um ano de pandemia, já são mais de 251 mil vidas perdidas e mais de 10 milhões de casos confirmados.

O Estado da Bahia e o Distrito Federal, admitindo o colapso sanitário, acabam de decretar lockdown. Outros Estados brasileiros determinaram medidas restritivas de circulação. O SUS vive o pior momento, com UTIs lotadas em 17 capitais. A situação é grave e tende a piorar. A pandemia avança sem freios.

A economia brasileira sofre danos de difícil reparação. Mesmo com a reabertura das atividades econômicas, milhares de empresas continuam falindo. Já são mais de 700 mil delas que cerraram as suas portas, desempregando milhões de trabalhadores. Sem o auxílio emergencial, outros milhões de brasileiros passam fome. Estamos diante do caos na saúde pública e na economia.

Mesmo nessa circunstância calamitosa, grande parte da população ainda continua se aglomerando, promovendo festas, perambulando pelas ruas sem máscara e respaldando, direta ou indiretamente, as bravatas e os atos inconsequentes, incompetentes e até irresponsáveis do governo Bolsonaro. O Brasil perdeu o controle da pandemia e muita gente perdeu a racionalidade.

Enquanto estivermos subjugados a essa pandemia, não há condição objetiva de restabelecer a normalidade das atividades econômicas e nem de recuperar o desenvolvimento social. Isso é a constatação do óbvio: não há economia sustentável de um país diante do seu povo exposto a uma doença altamente contagiosa, letal e sem controle efetivo.

Sem réstia de dúvida, a vacina é o remédio eficaz para debelar essa peste. Se não houver vacinação em massa neste ano, padeceremos por muito tempo dessa aflição abismal. Sendo a vacina a única solução para salvar vidas e a economia do país, por que então o Brasil amarga a agonia da ineficiência e da lentidão da vacinação do seu povo contra a Covid-19? Isso tem explicação e causa: governo negacionista.

O negacionismo significa negar a ciência, boicotar as medidas protetivas de contenção da pandemia e negar a vacina. No Brasil, Bolsonaro considera o coronavírus como uma gripezinha, provoca aglomerações, instiga as pessoas a não usarem máscara. Aconselha a tomar cloroquina e enfatiza, com arroubo, que não tomará a vacina para não virar jacaré.

Em setembro do ano passado, o governo Bolsonaro recusou firmar pré-contrato para aquisição de vacina, deixando de garantir 70 milhões de doses da Pfizer. Em outubro, desautorizou a compra da vacina CoronaVac, fabricada pelo Butantã. Em novembro, o Brasil não tinha, sequer, comprado agulhas e seringas suficientes para realizar a vacinação em massa.

Entretanto, Bolsonaro preferiu gastar bilhões de reais com a compra de cloroquina, remédio sem qualquer comprovação científica para o tratamento da Covid-19.

Depois de muita pressão política, e só após o Governo de São Paulo investir na compra e testes da vacina CoronaVac, o Governo Federal resolveu ceder ao imperativo dos fatos e efetuar a compra, ainda que insuficiente, das vacinas CoronaVac e AstraZeneca.

É importante ressaltar que o Plano Nacional de Imunização do Brasil é avançado e destacado como um dos melhores e mais eficientes do mundo. Isso se deve a uma política de estado implementada por governos sucessivos ao longo do século XX, que resultou na erradicação de várias doenças epidemiológicas, a exemplo da malária, febre amarela, rubéola, varíola, poliomielite, dentre outras.

A lentidão e a ineficiência da vacinação contra o coronavírus no Brasil não se devem à falta de infraestrutura, mas a uma política negacionista e incompetente do atual governo. O sistema público de saúde do Brasil possui capilaridade, pessoal, experiência e competência para vacinar em massa, com agilidade e eficiência.

No entanto, o que faltam são vacina, agulha, seringa, logística e, sobretudo, vontade política. A situação é vexatória e revoltante. Inacreditável!

Diante dessa gritante inapetência do Governo Federal, o STF autorizou os Governos dos Estados a comprarem vacinas, até mesmo aquelas que ainda não estejam autorizadas pela Anvisa, mas já aprovadas por órgãos internacionais.

Isto porque a Anvisa, órgão do Governo Federal, tem atrasado a autorização da compra de vacinas no Brasil. Foi a forma que se encontrou para viabilizar a compra diversificada e em larga escala de vacinas para atender a toda nação brasileira.

É preciso uma cruzada nacional pela vacinação imediata e em massa. Se continuarmos nesse ritmo, passaremos anos para nos livrar dessa pandemia que mata pessoas e devasta a economia.

Nesse contexto, face ao evidente negacionismo, os governos estaduais devem priorizar a aquisição de vacinas para execução da imunização plena neste primeiro semestre. Afinal, sem vacinação, não há salvação”.