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Caso Araceli, 48 anos de um crime bárbaro

O dia 18 de maio é uma data marcada pelo Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.

O dia do desaparecimento da menina Araceli Cabrera Crespo completa 48 anos na próxima terça-feira (18). Mesmo depois de tanto tempo, a forma como a menina de oito anos despareceu em 1973 continua um mistério. Polícia, suspeitos e familiares se depararam com diversas versões do crime, que permanece sem nenhuma solução. O processo, depois do julgamento e absolvição dos acusados, foi arquivado pela Justiça.

Aos 8 anos, Araceli foi raptada, drogada, estuprada, morta e carbonizada, em Vitória, no Espírito Santo. O corpo foi deixado desfigurado e em avançado estado de decomposição próximo a uma mata, em Vitória, dias depois de desaparecer.
Estudante da Escola São Pedro, na Praia do Suá, Araceli saiu da sua casa, no bairro de Fátima, para mais um dia de aula. Entretanto, o que era para ser apenas mais uma sexta-feira qualquer acabou se transformando em um retrato de brutalidade. Após o término das atividades escolares, a menina deveria voltar para sua residência mais cedo.

A pedido da mãe, Lola Cabrera Crespo, ao colégio, Araceli deveria ir embora antes dos demais alunos por conta do horário do ônibus que pegava todos os dias. Porém, o roteiro seria diferente naquele dia. Conforme o depoimento apresentado por um adolescente que estava em um bar entre o cruzamento das avenidas Ferreira Coelho e César Hilal, próximo ao colégio, a pequena menina não teria entrado do veículo.

Em vez disso, Araceli optado por ficar brincando com um gato ao lado do estabelecimento. Essa seria a última vez que ela seria vista publicamente antes do pai, Gabriel Sanchez Crespo, acionar as autoridades para procurá-la.

No dia 24 de maio, seis dias após o desaparecimento de Araceli, o corpo de uma criança foi encontrado desfigurado e em avançado estado de decomposição em uma mata atrás do Hospital Infantil de Vitória. O cadáver foi descoberto pelo policial Ronaldo Monjardim, quando ainda tinha 15 anos, ao lado de seu pai.

Três pessoas foram definidas como os principais suspeitos pela morte de Araceli e apresentados pela acusação: Dante de Barros Michelini (o Dantinho), Dante de Brito Michelini (pai de Dantinho) e Paulo Constanteen Helal.

Além de membros de famílias tradicionais e influentes no Espírito Santo, os indivíduos eram reconhecidos por possuírem alguns privilégios com o governo da época. Na principal versão dos acontecimentos, Paulo Helal foi quem teria raptado a menina após o término da aula no dia 18 de maio.

De acordo com a denúncia apresentada pelo promotor Wolmar Bermudes, revelada pelo Globo Repórter de 1977, Dantinho usou sua influência com oficiais da ditadura para escapar da condenação pelo crime. O homem teria contado com o apoio de forças dentro da polícia capixaba para dificultar as investigações.

Durante o julgamento, Paulo Helal e Dantinho negaram conhecer Araceli ou qualquer outro membro da família Cabrera Crespo. Mesmo assim, em 1980, o juiz Hilton Silly declarou ambos culpados pelo assassinato e definiu uma pena de 18 anos de reclusão, além do pagamento de uma multa de 18 mil cruzeiros. Dante Michelini, por outro lado, foi condenado a 5 anos na cadeia.

Tempos depois, o Tribunal de Justiça do Espírito Santo cancelou a sentença e o processo reaberto passou para o juiz Paulo Copolilo. Em um relatório de 700 páginas, Copolilo absolveu os acusados por falta de provas, o que fez com que o caso fosse arquivado e permanecesse engavetado até hoje.

No livro-reportagem Aracelli, Meu Amor (1976), o autor José Louzeiro relata que 14 pessoas morreram durante as investigações — entre testemunhas e pessoas que tentavam solucionar o mistério. O escritor alega ele mesmo ter sido alvo de uma tentativa de queima de arquivo enquanto pesquisava sobre o caso.