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Faoro, um grande jurista, faria 97 anos

Se fosse vivo um dos maiores presidentes da história da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB, o jurista Raimundo Faoro (pronuncia-se “Fauro”) completaria na próxima quarta-feira (27.04) 97 anos. Faoro era gaúcho de Vacaria. Morreu no Rio de Janeiro em 15 de maio de 2003). Foi jurista, sociólogo, historiador, cientista político e escritor brasileiro. Presidiu com maestria a OAB de 1977 a 1979 e foi membro da Academia Brasileira de Letras (ABL). É autor do livro Os Donos do Poder.

Raymundo Faoro era filho de agricultores, Attilio Faoro e Luisa D’Ambros. A família, de imigrantes italianos originários de Arsiè, província de Belluno, mudou-se para a cidade de Caçador, Santa Catarina (mesma cidade onde nasceu o ex-presidente nacional da OAB Roberto Busato), após 1930. Lá, Faoro fez o curso secundário no Colégio Aurora. Formou-se em direito em 1948 pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Transferiu-se em 1951, para o Rio de Janeiro, onde atuou como advogado, e em 1963 foi aprovado em concurso público para o cargo de procurador do Estado, função na qual se aposentaria. Colaborou na imprensa desde o tempo de estudante universitário. Co-fundador da Revista Quixote, em 1947, escreveu para diversos jornais do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo.

Integrou em 1972 o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, na condição de representante da OAB. Participou da decisão desse colegiado que por 8 votos a 1 arquivou a denúncia de tortura e morte de Stuart Edgart Angel Jones, seguindo o voto do senador Filinto Müller. Foi presidente nacional da OAB de 1977 a 1979. Lutou pelo fim dos Atos Institucionais e ajudou a consolidar o processo de abertura democrática nos anos 70. Com ele a sede da OAB, no Rio de Janeiro, transformou-se num front de resistência pacífica contra o regime militar de 1964.

Partiu da OAB a primeira grande denúncia circunstanciada contra a tortura de presos políticos. No governo João Figueiredo, lutou pela anistia ampla, geral e irrestrita. Com a anistia e a retomada das liberdades políticas, a casa de Faoro em Laranjeiras tornou-se lugar de encontro de políticos como Tancredo Neves e Luiz Inácio Lula da Silva. Este propôs, sem sucesso, que Faoro entrasse na disputa presidencial em 1989, como candidato a vice-presidente.

O atual ministro do STF, Luís Roberto Barroso narra que, no final dos anos 70, recorreu a Faoro, então recém-eleito presidente da OAB, para que este intercedesse pela segurança de membros do centro acadêmico do qual Barroso era diretor, que haviam sido convocados para depor no Departamento de Polícia Política e Social (DPPS), o que à época significava grave risco de sofrer violência. De acordo com Barroso, um telefonema de Faoro para o Departamento foi essencial para a incolumidade dos estudantes.

Em 23 de novembro de 2000, Faoro foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, sucedendo ao também advogado Barbosa Lima Sobrinho na cadeira n. 6. Foi recebido pelo acadêmico Evandro Lins e Silva em 17 de setembro de 2002. Em 2013 a biblioteca de Raymundo Faoro, composta por 9.280 itens, incluindo livros, periódicos e obras de referência, abrangendo diversos campos do saber, como filosofia, história, sociologia, ciência política, direito e literatura, foi adquirida pela Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro.
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Do ex-presidente do STJ, ministro aposentado Paulo Costa Leite: “Faoro foi não só um grande jurista como também um exemplo de virtudes como cidadão.Tive o prazer de conhecê-lo. Reputo-o o melhor presidente que da história da OAB”.