Historicamente frequentado pelo mundo jurídico – advogados, magistrados, membros do Ministério Público e estudantes de Direito – a joia do centro do Rio de Janeiro e um dos mais tradicionais restaurantes da cidade, o Bar Luiz segue fechado na Rua da Carioca, mas ainda resiste. Dona do restaurante, Rosana Santos explica que precisou adiar a reabertura da casa por causa de problemas estruturais no imóvel. Uma chuva provocou a quebra de parte do forro do teto do estabelecimento. Agora, o restaurante ganha um projeto para ser repaginado e voltar à ativa após mais de um ano fechado.
O Bar Luiz completou 135 anos em janeiro deste ano. Xodó dos cariocas, ele se manteve de pé após uma onda de apoio depois do anunciado fechamento em 2019 e abriu as portas pela última vez em novembro do ano passado. O evento pretendia arrecadar fundos para bancar a reabertura, mas não foi suficiente. Pagou apenas os custos daquele dia e da campanha de vaquinha promovida na internet.
Fechado desde março de 2021, nenhum dos funcionários precisou ser demitido, mas acabaram conseguindo outros trabalhos. Agora, Rosana tenta captar patrocínio para viabilizar o funcionamento do bar. “Vamos ver quem vai dar o polimento nessa joia da coroa do Centro do Rio. Quem vai ser o padrinho desse retorno?”, provoca a dona do restaurante.
A arquiteta Noemia Barbosa, especialista em bens tombados, faz o projeto. “No segundo lockdown, em 2021, nós tivemos problemas de chuva, que chegaram a prejudicar o salão do bar. Caiu o forro do teto. Como já estávamos precisando de intervenções, não tivemos condições de reabrir como está”, disse Rosana.
As obras também vão adequar o espaço às normas vigentes da Vigilância Sanitária e dos Bombeiros. “A arquiteta está elaborando o projeto e depende de um engenheiro de estruturas para finalizar. Por ser um prédio tombado, precisamos de aprovação do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac)”, explicou.
Rosana diz que deseja reabrir o bar este ano, mas que ainda não há certeza se será possível. “Tudo tem que ser muito bem visto. Hoje mesmo eu liguei para arquiteta. Falei: ‘Pelo amor de Deus, me dá notícia do andamento do projeto. Não aguento mais de ansiedade para ver meu Bar Luiz aberto, lindo, brilhando. Os clientes não param de perguntar. Tenho certeza que o Bar Luiz vai inundar de gente, vai ser uma maravilha”, afirma.
Fundado em 3 de janeiro de 1887, quando Dom Pedro II era o Imperador do Brasil e o Rio, a capital do Império, o Bar Luiz ajudou a popularizar a venda da cerveja pela serpentina: o chope. Já durante a “Belle Epóque” do período republicano, o bar atraia à noite clientes vindos dos teatros próximos à Rua da Carioca: atores, vedetes e profissionais da arte e espectadores dos cinemas da Cinelândia.
O botequim alemão, que chamava-se Bar Adolph veio a mudar o nome para Bar Luiz, com o advento da Segunda Guerra Mundial e os movimentos nacionalistas e antifascistas no Brasil. Sob estas circunstâncias, estudantes do Colégio Pedro II em campanha contra os regimes fascistas da Europa invadiram o Bar com o intuito de destruí-lo, associando seu nome ao ditador alemão Adolf Hitler.
A casa foi salva pelo compositor de Aquarela do Brasil, Ary Barroso, que lá tomava um chope no bar. Desfeito o mal entendido, os estudantes se retiraram para apedrejar outro estabelecimento nas redondezas. O marcante episódio resultou na naturalização de Ludwig Vöit, que passou a denominar-se Luiz, e na alteração do nome da casa para “Bar Luiz”.