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Chico Xavier, vinte anos sem o médium mais importante do país

Há 20 anos, no dia 30 de junho de 2002, morria em Uberaba, no Triângulo Mineiro, o médium mais importante do Espiritismo, Chico Xavier. Ele escreveu mais de 450 livros e vendeu mais de 50 milhões de exemplares em português, com traduções para o inglês, espanhol, japonês, esperanto, francês, alemão, italiano, russo, mandarim, romeno, sueco, grego, húngaro e outros, inclusive em braile. Por considerar suas habilidades um dom para ajudar as pessoas, não aceitava dinheiro ou gratificações por seus escritos, tendo cedido os direitos autorais para instituições de caridade. Também psicografou cerca de dez mil cartas, nunca tendo cobrado algo do destinatário. Seus empregos foram vendedor, tecelão e datilógrafo, tendo vivido de forma modesta do salário que recebia do Ministério da Agricultura.

Nascido no dia 2 de abril de 2010 e registrado com o nome de Francisco de Paula Cândido, em homenagem ao santo do dia de seu nascimento, em São Leopoldo, Minas Gerais. Teve oito irmãos e faziar parte de uma família de modestas condições, filho de João Cândido Xavier, um vendedor de bilhetes de loteria, e de Maria João de Deus, uma lavadeira católica, ambos analfabetos. Segundo biógrafos, a mediunidade de Xavier teria se manifestado pela primeira vez aos quatro anos de idade. Em abril de 1966, passou a assinar com o nome paterno de Francisco Cândido Xavier.

Entrou para a escola primária com oito anos de idade, onde estudava pela manhã e depois trabalhava numa indústria de fiação e tecelagem. Há cem anos, em 1922, quando estava no quarto ano, recebeu menção honrosa por uma redação em um concurso estadual sobre o Centenário da Independência do Brasil, que ele confidenciou ao professor ter sido ditada por um “homem do outro mundo”. Em 1927, então com dezessete anos de idade, Francisco passou a escrever poesias, cuja autoria atribuía aos espíritos. A partir de 1931 passou a afirmar que os autores eram diversos poetas falecidos. Em 1928, começou a publicar nos periódicos O Jornal, do Rio de Janeiro, e Almanaque de Notícias, de Portugal. Em 1932, foi publicado o Parnaso de Além-Túmulo pela Federação Espírita Brasileira (FEB); a obra é uma coletânea de poesias atribuídas a espíritos de poetas brasileiros e portugueses.

Conseguiu um emprego de escrevente-datilógrafo, na Fazenda Modelo da Inspetoria Regional do Serviço de Fomento da Produção Animal, iniciado em 1935, e a exercer as suas funções no Centro Espírita Luiz Gonzaga, atendendo aos necessitados com receitas, conselhos e psicografando. O administrador da fazenda era o engenheiro agrônomo Rômulo Joviano, também espírita, que além de conseguir o emprego para Xavier, o ajudava a ter a paz necessária para os trabalhos de psicografia, acompanhando-o nas sessões do Centro Luiz Gonzaga, do qual se tornaria presidente. Foi justamente no período em que psicografava nos porões da casa de Joviano que foi escrita uma de suas maiores obras, intitulada Paulo e Estêvão.

Em 1931, marcou a maioridade do médium e foi quando ele afirmou ter tido o primeiro encontro com seu mentor espiritual Emmanuel. Xavier dizia que o mentor o informa sobre a sua missão de psicografar uma série de trinta livros e explica-lhe que para isso são lhe exigidas três condições: “disciplina, disciplina e disciplina”. No decorrer da década destacaram-se ainda a publicação dos romances atribuídos a Emmanuel e da obra Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, atribuída ao espírito de Humberto de Campos, onde a história do Brasil é interpretada por uma óptica espiritual e teológica. Essa última obra trouxe como consequência uma ação judicial movida pela viúva do escritor, que pleiteou por essa via direitos autorais pelas obras psicografadas, caso se confirmasse a autoria do famoso escritor maranhense.

A defesa do médium foi suportada pela FEB e resultou, posteriormente, no clássico A Psicografia Perante os Tribunais, do advogado Miguel Timponi. Em sua sentença, o juiz decidiu que os direitos autorais referiam-se à obra reconhecida em vida do autor, não havendo condição de o tribunal se pronunciar sobre a existência ou não da mediunidade. Ainda assim, para evitar possíveis futuras polêmicas, o nome do escritor falecido foi substituído pelo pseudônimo Irmão X. Nessa época, Francisco ingressou no serviço público federal, como auxiliar de serviço no Ministério da Agricultura.

Na década de 70, além da catarata e dos problemas de pulmões, passou a sofrer de angina. Em 1975, desligou-se do centro espírita Comunhão Espírita Cristã e fundou um novo em Uberaba, o Grupo Espírita da Prece, onde passou a exercer suas atividades. O médium morreu aos 92 anos de idade, em decorrência de parada cardiorrespiratória, no dia 30 de junho do ano de 2002. O então presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, emitiu nota sobre a morte do médium: “Grande líder espiritual e figura querida e admirada pelo Brasil inteiro, Chico Xavier deixou sua marca no coração de todos os brasileiros, que ao longo de décadas aprenderam a respeitar seu permanente compromisso com o bem estar do próximo”.

O então governador de Minas Gerais, Itamar Franco, decretou luto oficial de três dias no Estado e declarou: “Chico Xavier expressava em sua face uma imensa bondade, reflexo de sua alma iluminada, que transparecia, particularmente, em sua dedicação aos pobres, imagem que vou guardar para sempre, com muito carinho”. Segundo a Polícia Militar de Minas Gerais, 120 mil pessoas compareceram ao velório do médium, que aconteceu em Uberaba nos dias 1 e 2 de julho. Em um caminhão do Corpo de Bombeiros, o caixão com o corpo do médium percorreu cinco quilômetros até chegar ao Cemitério São João Batista, na mesma cidade, com mais de 30 mil pessoas a acompanhar o cortejo a pé. Quando o caixão chegou ao cemitério, foi recebido com uma chuva de pétalas de 3 mil rosas lançadas em profusão de um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal.