Geraldo Leão é um historiador que coleciona fotos, áudios, videos e objetos que preservam a história da cidade de São Leopoldo em Minas Gerais. Embora se confesse católico, Geraldo Leão tem amplo conhecimento do Movimento Espírita da cidade e de Chico Xavier de forma muito particular. Segundo ele, seu livro de cabeceira é o romance Há dois mil anos, de Emmanuel, psicografado pelo médium. Mantém, na cidade o Memorial Chico Xavier. Ele luta para ter um local mais amplo que possibilite expor ao público tudo o que possui em relação a Chico Xavier, no período em que o médium viveu na cidade, ou seja, desde o seu nascimento, em 1910, até sua mudança para Uberaba, em 1959.
Geraldo Leão nasceu em Belo Horizonte no dia 25 de julho de 1936, no bairro do Horto Florestal. Chegou em Pedro Leopoldo no ano em 1947 onde estudou na Escola São José, a mesma em que Chico Xavier estudou, antigamente com o nome de Grupo Escolar de Pedro Leopoldo. Passou depois pelo Colégio Imaculada Conceição. Profissionalmente, trabalhou em fábrica de tamancos, depois numa fábrica de acessórios para indústria têxtil, em alfaiataria, onde aprendeu a profissão, e, por fim, na Companhia de Cimento Portland Cauê, empresa na qual se aposentou após 35 anos de serviço.
Sempre teve afinidade com coisas antigas e interesse por colecioná-las. A partir de 1975 começou a juntar fotografias de Pedro Leopoldo e fazer gravações com personalidades importantes da cidade, como médicos, engenheiros, advogados, políticos e figuras populares, que gravaram mensagens com suas importantes experiências. Com isso, o acervo atinge cerca de 11 mil fotos, documentos, 800 fitas cassetes gravadas, fitas de vídeo de diversas festas e solenidades realizadas na cidade, como carnaval, Semana Santa, as festas do “Boi Manta” e de Congado, desfiles cívicos e muitos outros acontecimentos que ocorreram na cidade. O acervo conta também com considerável quantidade de objetos antigos, vários deles relacionados a Chico Xavier.Ele pensa em editar um livro com fotos e textos da trajetória de Chico Xavier em Pedro Leopoldo, abrangendo o período de 1910 a 1959. Só precisa do aporte de recursos para fazer o projeto deslanchar”.
O primeiro contato de Geraldo Leão com o Chico se deu quando ele contava com aproximadamente 20 anos. Estava naquela efervescência da juventude e namorando, circunstâncias que, de certa forma, não me faziam perceber sua importância. Ele freqüentava muito a casa de seu pai, que era motorista de praça, e o levava para viajar ou visitar a periferia. Inclusive, seu pai fez várias fotos de Chico Xavier que fazem parte do acervo. Passado algum tempo é que foi entendendo quem era realmente Chico Xavier e o que ele representava para Pedro Leopoldo. Descobriu, como muitos, que ele era uma pessoa fora do comum.
Na época do Chico em Pedro Leopoldo, ou seja, há mais de 50 anos, a cidade contava, entre pousadas, pensões e hotéis, com aproximadamente oito unidades. Hoje conta com apenas dois hotéis. Pedro Leopoldo com o Chico Xavier era outra. Às segundas e sextas-feiras, a cidade ficava tomada por centenas de visitantes, que vinham para assistir às sessões no Centro Espírita “Luiz Gonzaga, para receber uma mensagem, um conforto ou apenas conhecer o Chico. Pela rua São Sebastião toda se via automóveis vindos de todos os cantos do país. E, também do exterior, Chico Xavier recebia visitantes. Um deles foi o famoso professor Pietro Ubaldi, em 1951, que, na ocasião, recebeu noticias da mãe, em italiano, através do Chico.
A música era o prazer predileto de Chico. Ele era apaixonado por musica. Geraldo Leão lembro Chico sempre passava na hora do almoço em uma loja de eletrodomésticos de Pedro Leopoldo, a “Radiolândia”, onde sempre havia uma radiola funcionando. Quando ele aparecia por lá para ouvir músicas, Geraldo aproveitava e ia ouvir também. Um dia ele chegou para o dono da loja, Antonio Rafael, que já faleceu, e lhe disse: “Oi Nonô Rafael, coloque para mim os Prelúdios de Liszt que eu estou doido para ouvir isso hoje”. Les Préludes S.97 é um poema sinfónico composto por Franz Liszt em 1848. É o número 3 do seu ciclo de treze Poemas sinfónicos escritos durante o período em que esteve em Weimar. A obra foi dirigida pelo próprio Liszt no dia da sua estreia, em 23 de fevereiro de 1854 num concerto no Hoftheater de Weimar. A partitura foi publicada em abril de 1856 e as partes orquestrais em janeiro de 1865 pela editora Breitkopf & Härtel de Leipzig. Les Préludes é o mais popular dos Poemas sinfónicos de Liszt. Durante a Segunda Guerra Mundial, os alemães usaram um motivo de fanfarra da marcha final para anunciar a sua vitória nas mensagens que emitiam.
Geraldo lembra que era costume o Chico e alguns amigos, após o término das reuniões, irem para a casa de André Luiz, seu irmão, para tomar um lanche. Isso acontecia lá pela uma, duas da madrugada. Como ele morava em frente à casa do André, na rua Benedito Valadares, tinha a oportunidade de ouvir as músicas e as deliciosas gargalhadas do Chico. Sempre que ia fazer suas psicografias, Chico pedia música, como se pode comprovar no DVD do programa Pinga Fogo, da TV Tupi, do qual ele participou.
Corre a lenda em Pedro Leopoldo que o padre Sinfrônio Torres de Freitas, que ficou na cidade por mais de 40 anos, teria sido um dos responsáveis pela saída de Chico de Pedro Leopoldo. Geraldo Leão não acredita e explico: no dia da inauguração da Praça Chico Xavier, em 15 de novembro de 1980, Chico fez um discurso extraordinário que tive a felicidade de gravar na integra com meus equipamentos. Gravou os discursos de todos os oradores. O Chico, na sua fala, deu uma lição de vida contando toda a sua trajetória por Pedro Leopoldo. Num dos trechos de seu discurso falou: “Agradeço a presença do Padre Sinfrônio Torres de Freitas, pastor das almas de Pedro Leopoldo”. Quando ele disse isso, uma estrondosa salva de palmas ocorreu. Logo depois dos discursos, Chico foi para a casa de sua irmã, Luiza Xavier, a mais velha, e num dos quartos recebia os visitantes que o vinham cumprimentar. Formou-se uma grande fila e nela pode divisar, meio espantado, a presença de três irmãs de caridade de Pedro Leopoldo, com seus hábitos, para cumprimentá-lo. Pode ser que alguns não gostassem do trabalho do Chico, mas o historiador afiança que ele tinha amigos e simpatizantes em todos os redutos religiosos.
Em 1998, em Pedro Leopoldo, com patrocínio da prefeitura, foi realizada uma exposição em seis grandes salas, na Escola São José, retratando a cidade desde o seu inicio até aquele ano de 1998. Uma das salas foi exclusivamente para Chico Xavier. Nela foi colocada a máquina de escrever, que ele usava na Fazenda Modelo, pertencente ao acervo de Geraldo Leão; a cadeira na qual ele se sentava para psicografar no Centro Espírita Luiz Gonzaga, hoje exposta no Memorial; o livro de ponto da Fazenda Modelo, em que Chico assinava entrada e saída ao serviço; lápis que usou nas psicografias; óculos, a xícara de chá de seu uso, dentre outros. A particularidade da sala é que foi feita também um serviço de som com gravador auto-reverse, que reproduzia mensagens na voz do Chico. Então, as pessoas viam os objetos que pertenceram ao Chico e ouviam a sua voz. Parte desse acervo se encontra exposto no Memorial Chico Xavier instalado em Pedro Leopoldo. O historiador precisa de um espaço maior, se possível exclusivo, para dar mais destaque a tudo aquilo que tem do inesquecível Francisco Cândido Xavier.