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Bondinho do Pão de Açúcar completa 110 anos

O famoso mundialmente bondinho do Pão de Açúcar, um dos maiores símbolos do Rio de Janeiro, completa este ano de 2022 cento e dez anos de existência. Quando foi construído, o bondinho foi um verdadeiro impulso para o prestígio do país. Em 1912, O Brasil era considerado um país tecnicamente atrasado e subdesenvolvido. Com a construção do terceiro teleférico do mundo, a intenção era mudar essa visão, e o projeto realmente atraiu atenção internacional.

Tudo começou em 1908, numa cerimônia na Praia Vermelha, na Urca, diretamente aos pés do Pão de Açúcar. Lá o engenheiro brasileiro Augusto Ferreira Ramos olhou para o alto do penhasco e teve a ideia de estabelecer uma conexão entre o chão e o topo da montanha, numa viagem pelo ar. Ramos recorreu a uma empresa especializada em construção de teleféricos, a alemã Julius Pohlig AG, em Colônia.

“O engenheiro e fundador Julius Pohlig havia, naquele período, deixado oficialmente os negócios,” diz Ulrich Soénius, diretor do arquivo científico da Renânia do Norte-Vestfália. “Ele foi impulsionado pela capacidade consultiva que envolvia o projeto do Pão de Açúcar.” Os arquivos contam com mais de nove mil itens relacionados a Pohlig, entre eles mais de sete mil fotos e desenhos. No entanto, documentos escritos não foram preservados.

Pohlig foi pioneiro na construção de teleféricos. O engenheiro nasceu em Leichlingen, na Alemanha, em 1842, e estudou engenharia na renomada Universidade de Karlsruhe. Alguns anos depois, ele já fazia parte do corpo docente da Escola de Construção em Siegen. Lá ele fundou, aos 32 anos, uma empresa de mineração e metalurgia. A especialidade de Pohlig era a construção de teleféricos, projetados na verdade para o transporte de carvão e de mercadorias, não destinados ao transporte de passageiros.

Foi no Rio de Janeiro que o teleférico foi utilizado pela primeira vez para transportar turistas. “Julius Pohlig já era bem conhecido por seus teleféricos, que ele pretendia utilizar inicialmente para a mineração. Não se sabe ao certo como ele chegou ao projeto do Pão de Açúcar, mas o bondinho foi um sucesso, porque já naquela época o Rio dee o Pão de Açúcar eram conhecidos internacionalmente”, diz Soénius.

Com o decreto número 1.260, Ferreira Ramos recebeu a aprovação para a construção e operação do bondinho, que teria três trechos: da Praia Vermelha ao Morro da Urca, do Morro da Urca ao Pão de Açúcar e outro entre o Morro da Urca e o Morro da Babilônia. Somente os dois primeiros foram construídos. O planejamento começou em 1910, depois que Ferreira Ramos fundou sua empresa operadora. Durante a construção, um total de quatro toneladas de material foi transportado para o topo da rocha. Grande parte foi especialmente importada da Alemanha, que não colaborou só com a infraestrutura, mas também com o know-how.

Para transportar apenas passageiros para o Pão de Açúcar, precauções especiais de segurança eram necessárias. “As pistas são, até para os padrões de hoje, um pouco opressivas, pois são muito próximas da montanha. Fica tão perto que você pensa que uma rajada forte de vento pode causar uma tragédia, mas até hoje não houve nenhum acidente” diz Soénius ao olhar uma das fotos.

Apesar das extraordinárias dificuldades, o projeto foi concluído em oito meses – e sem incidentes. Em 27 de outubro de 1912, o primeiro trecho para o Morro da Urca foi posto em operação. No ano seguinte, o segundo trecho para o Pão de Açúcar foi inaugurado. Inicialmente apenas 16 passageiros podiam ser transportados a uma velocidade de sete quilômetros por hora. Hoje são 65 passageiros, que viajam a 31 quilômetros por hora.

O que não mudou foi a bela vista do Pão de Açúcar. O fascínio da viagem parece atemporal, e desde o início da parceria entre Rio de Janeiro e Colônia, no ano passado, a história da atração turística se tornou ainda mais importante: “as fotos do arquivo mostram que essa parceria tem profundas raízes históricas”, diz Soénius. “Elas nos lembram de uma ligação que ganha novamente importância.”

Desde a viagem inaugural do bondinho, muita coisa mudou. Por exemplo, sua cor. Durante certo período ele foi de um amarelo vivo, hoje é branco e cinza. Os bondinhos fabricados na Alemanha eram de madeira, deixando o vento entrar pelas janelas. Hoje, as grandes janelas de plástico vão quase até o chão. A transparência do bondinho dá uma visão clara da densa área verde entre as paradas, da Marina da Glória e do Cristo Redentor.

O número de passageiros aumentou ao longo das décadas e continua a crescer, assim como os requisitos de segurança, o que obrigou à renovação completa do teleférico. As novas estações foram construídas ao lado dos antigos bondinhos, que continuaram em funcionamento até os novos entrarem em funcionamento, em 29 de outubro de 1972 – 60 anos após sua viagem inaugural. Em cem anos, nunca houve um acidente.