A ideia de uma semana de 4 dias de trabalho pode parecer estranha a princípio. A legislação brasileira estabelece que a jornada de trabalho é de até 40 horas por semana mas algumas empresas nacionais começam a testar o mesmo modelo de jornada de trabalho que já vem sendo adotado ao redor do mundo. O novo modelo, se aprovado, reduzirá a carga horária de trabalho para quatro dias ao invés de cinco dias como existem a mais de um século. O novo modelo de jornada reduzida tem como objetivo melhorar a eficiência e bem-estar dos trabalhadores, assim como aumentar a retenção de talentos e inclusive o aumento de receita. Pesquisas indicam que 74% dos trabalhadores seriam mais produtivos com a redução.
Fora do Brasil, o sonho da semana de 4 dias úteis está mais próximo do que se imagina, pelo menos para os moradores da Califórnia, nos Estados Unidos (EUA). Um projeto de lei que está em andamento na Assembleia Legislativa do estado propõe uma jornada semanal de 32 horas – em substituição às atuais 40 horas – para empresas com mais de 500 funcionários, sem corte de salário. A proposta foi apresentada pela deputada estadual Cristina Garcia, do Partido Democrata, e ainda segue para análise do colegiado da Assembleia. Com inspiração no modelo testado na Islândia entre 2015 e 2019, a parlamentar defende que a iniciativa trará melhor qualidade de vida aos trabalhadores.
Além disso, está previsto no projeto o pagamento de hora extra equivalente a uma hora e meia de trabalho por qualquer período que exceda a jornada de 32 horas semanais. A proposta vem em meio ao fenômeno da “grande demissão”: cerca de 32% dos jovens entre 22 e 35 anos que pediram as contas nos EUA teriam permanecido nas empresas caso tivessem recebido uma oferta de trabalho de quatro dias, de acordo com um estudo da Jefferies de novembro de 2021.
Os Emirados Árabes Unidos foram o primeiro país do mundo a adotarem, integralmente, a semana de 4 dias úteis. A jornada de trabalho de 36 horas semanais entrou em vigor em janeiro deste ano, para todos os órgãos públicos, inclusive o banco central; para as empresas privadas, a iniciativa é facultativa.
A medida aconteceu concomitantemente em outros países. No Reino Unido, por exemplo, mais de 3 mil trabalhadores em 60 empresas devem começar os testes para jornada menor entre junho e dezembro. O teste-piloto está sendo conduzido pelas universidades de Oxford e Cambridge, em parceria com a Boston College nos EUA.
A Bélgica já considera que a jornada de quatro ou cinco dias deve ser uma opção do trabalhador, desde fevereiro – os belgas trabalham por 38 horas semanais, com a possibilidade de fazer 45 horas em uma semana e reduzir a jornada na seguinte. Outro que adota esse modelo de trabalho é a Islândia. O país fez testes de jornada reduzida com cerca de 2.500 trabalhadores durante os anos de 2015 e 2019. O estudo realizado pela Associação de Sustentabilidade e Democracia (Alda) e pela instituição britânica Autonomy concluiu que o bem-estar dos funcionários melhorou — e a produtividade permaneceu a mesma ou até aumentou.
Escócia, País de Gales e Suécia também já testaram a redução da jornada de trabalho. Mas, independentemente do governo, empresas privadas colocaram em prática a semana de 4 dias. A Microsoft adotou a jornada reduzida durante um mês em 2019, no Japão; Unilever e Perpetual Guardian, na Nova Zelândia, também fizeram o mesmo. A Elephant Ventures, empresa de engenharia e software de dados, testou a redução dos dias de trabalho durante agosto de 2020, em meio à pandemia de covid-19. Desde então, a empresa reduziu a semana para 4 dias de trabalho, mas com carga horária de 10 horas por dia.