A história abaixo é contada pelo meu amigo vascaíno Cezar Britto, ex-presidente nacional da OAB e também da OAB de Sergipe. Cezar é, sem dúvida, uma das melhores figuras que conheci – e tive o prazer de assessorar – na entidade que já foi uma das mais importantes do pais:
“Nasci e morei na cidade de Propriá, em Sergipe, até os quatorze anos de idade. Lá era chamado de Cezar. Salvo na escola, quando éramos apresentados a um número de identificação para fins de chamada. Vivíamos em plena ditadura civil-militar e a sua mania de disciplinamento. Eu era número-nome 54, outras o 49.
Quando fui morar em Aracaju, nos primeiros dias da nova escola pública, fui reclamar ao professor de que meu nome não constava da chamada. Depois de uma busca na lista de presença, informou-me o professor que meu nome estava ali anotado, inclusive com três registros de ausência. Percebi, então, a razão do equívoco, é que meu nome estava grafado como Raimundo Cezar. E como eu não estava acostumado ao nome Raimundo, não respondi à chamada.
Mas este fato despertou minha curiosidade sobre a razão do nome Raimundo. Ainda mais quando todos meus irmãos têm dois nomes que homenageiam parentes e são conhecidos pelos primeiros nomes.
Eu sou o único conhecido pelo segundo nome, e não há em minha família parente com o nome de Raimundo ou Cezar. Daí a explicação materna:
– Filho, quando você ia nascer o parto foi muito complicado. Havia uma possibilidade de morrermos. Aí lembrei de São Raimundo Nonato, protetor dos partos, e prometi que o seu nome seria uma homenagem a ele, desde que sobrevivêssemos. Deu tudo certo, mas depois achei que o nome Raimundo Nonato não era muito bonito. Consultei meu irmão Carlinhos e concluímos que colocar apenas o nome Raimundo não seria uma plena quebra de promessa. Colocamos o nome Raimundo Cezar. E como eu achava o nome Cezar mais bonito, não estimulei que lhe chamassem de Raimundo.
Posteriormente, já quando estudante de direito, tentei alterar a forma em que eu me apresentaria, agora para homenagear o sobrenome de meu pai. Seguindo o exemplo do combativo político paulista André Franco Montoro, que se fez conhecido como Franco Montoro, passei a usar e assinar com o nome Britto Aragão. Nos textos que publiquei durante o movimento estudantil e até minha assinatura na primeira carteira de advogado, assinava Britto Aragão.
Mas a petição inicial da minha mãe foi deferida e transitou em julgado: Sou Cezar Britto.”