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Uma juiza negra no gabinete de Barroso

A juíza de Direito Flávia Martins de Carvalho estende a mão com sorriso e ar leve, quase descontraído, que faz evaporar a imagem tradicional de sisudez dos magistrados. “Excelência?” ela também dispensa o tratamento. Flávia atua no no Tribunal de Justica de São Paulo e também como juíza auxiliar do gabinete do ministro Luís Roberto Barroso, agora presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).

“É fundamental desconstruir a imagem do juiz distante da sociedade. Temos de nos aproximar. E isso é possível por meio do aspecto humano. Não posso parecer uma deusa, que esteja no Olimpo, intocável. Sou humana. Choro. Os processos me tocam” diz a juíza. Flávia representa uma ruptura no imaginário do Judiciário também por ser uma mulher negra. Como juíza auxiliar do STF, é uma das pouquíssimas pessoas negras na mais alta Corte brasileira – o órgão afirma não ter números exatos sobre o tema.

Funcionários contam que ela é a única juíza negra na corte atualmente. Em 132 anos de história, foram 171 ministros e ministras do Supremo. Desses, apenas três negros e três mulheres – nenhuma negra. “Sou consciente de quem sou, onde estou e da minha importância. Não a Flávia. Mas a mulher preta, pobre e periférica e que hoie é uma juíza que atua na maior Corte do País, o STF. Não sou ególatra. Mas é o que a juíza Flávia representa no contexto brasileiro”.

O Estadão encontrou a juíza na Livraria da Vila, zona oeste de São Paulo, antes do lançamento da biografia que ela escreveu sobre a ativista Lélia Gonzalez. É um livro infanto-juvenil, publicado pela Editora Mostarda, que faz parte de uma série com biografias de personalidades negras inspiradoras. “A literatura permite que me conecte com aquilo que é mais humano nas pessoas, não só o aspecto racional”, diz ela, de 49 anos. (Estadão)