Por Celina Côrtes, jornalista e escritora – O Rio de Janeiro já foi a capital do império português, assim como foi a capital do país até 1960, quando ela se mudou para Brasília. Até então, a cidade surfava no peso de sua história, nos efeitos da concentração de poder e, sobretudo, nas ondas de seus litorais e em sua beleza natural. Foi motivo de cobiça da pujante São Paulo, rica em finanças e pobre em horizontes para se admirar. A pá de cal na Cidade Maravilhosa teria vindo em 1975, quando o general Geisel transformou a cidade-estado Guanabara em mera cidade do Rio de Janeiro com a malfadada fusão feita pela ditadura militar.
Como lembrou o colunista e escritor Nelson Motta, as vantagens de até então ter tido a sua própria cultura, economia e instituições públicas – mescladas ao estado do Rio de Janeiro -, equivaleram a uma sentença de morte. Os males do estado falido contaminaram o Rio, enquanto o próprio estado continua patinando na sua própria decadência, tradições de atraso e o que há de pior em sua política arcaica. De lá para cá, o Rio de Janeiro nunca mais se reergueu. Os testemunhos históricos, concentrados sobretudo no Centro da cidade, estão cercados de mendigos e camelôs.
Sem falar na Zona Oeste, onde estão os mais belos litorais da ex-capital, agora tomada por milicianos e traficantes, efeitos colaterais da famiglia que escolheu a região para morar. (…) Só que o Rio ainda é o cartão postal do país, com a monumental estátua do Cristo, braços abertos sobre a Guanabara, com a acidentada geografia que desenhou pérolas como o Pão de Açúcar. (…) De minha parte, passei temporadas involuntárias em São Paulo. Nunca consegui encontrar por lá o que mais aprecio: essa natureza generosa e exuberante, que não existe em outro lugar do mundo.