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Paulo Medina recebe comenda Bernardo Mascarenhas

O professor e advogado Paulo Roberto Gouvêa Medina foi agraciado pela Agência de Desenvolvimento de Juiz de Fora (MG) e Região com a outorga da Comenda Bernardo Mascarenhas. A cerimônia foi realizada no auditório da Faculdade Suprema, localizado à Alameda Salvaterra, 200, bairro Salvaterra.

Bernardo Mascarenhas nasceu em Curvelo (MG) no dia 30 de maio de 1847, vindo a falecer em Juiz de Fora em 9 de outubro de 1899. Foi um empreendedor brasileiro responsável, entre outros, pela fundação da Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas e, juntamente com Francisco Batista de Oliveira, da Companhia Mineira de Eletricidade e da Usina Hidrelétrica de Marmelos.

Integra do discurso do advogado Paulo Medina:

A solenidade de que ora participamos tem um significado que, por si só, a define: é a celebração do empreendedorismo. Promove-a a Agência de Desenvolvimento de Juiz de Fora e Região, organização cujo fim social é o de articular trabalho conjunto de instituições públicas, entidades de classe e empresas em favor do desenvolvimento sustentado de Juiz de Fora e de toda a região que a tem como cidade polo. Motiva-a o legado de Bernardo Mascarenhas, que,
entre 1887, quando aqui se instalou e 1899, ano de sua morte, se tornou o grande propulsor do
nosso progresso e principal fiador da legenda que fez desta cidade a Manchester mineira.
Destina-se a conferir, na linha do que prevê o respectivo estatuto, a Comenda cunhada em honra
do seu patrono, a um elenco reduzido de quatro instituições e uma personalidade, “em razão do
empreendedorismo e do trabalho realizado em prol do desenvolvimento regional”.
Na condição de homenageado na última categoria, ainda que sem convicção de fazer jus a tão nobre honraria, cumpre-me agradecer a Comenda Bernardo Mascarenhas, com que fomos distinguidos.
Falo por mim e em nome da Associação Portuguesa de Juiz de Fora, do Colégio dos Jesuítas, da Fábrica de Doces Brasil e da Universidade Federal de São João del-Rei – instituições
e empresa agraciadas, neste ato.
Figura em primeiro lugar nessa relação, segundo a ordem alfabética — e faria jus a esse
privilégio pelo critério de antiguidade –, a Associação Portuguesa de Juiz de Fora, originária da Sociedade Auxiliadora Portuguesa, criada em 1891. Trata-se de meritória instituição que, há
longos anos, tem congregado os nacionais da nossa pátria mãe e seus descendentes, e desenvolvido importante papel cultural e social, além de abrigar o Consulado Honorário de Portugal, vinculado ao Consulado de Portugal com sede em Belo Horizonte. Suas atividades sociais têm tido como ponto alto a Festa Portuguesa, anualmente realizada e que, em vista de sua relevância do ponto de vista do incentivo à cultura e à gastronomia lusas, mereceu inclusão, recentemente, no calendário dos eventos municipais, por força da Lei n. 14.598, de 24 de abril de 2023. É-me particularmente grato compartilhar desta homenagem com a Associação Portuguesa de Juiz de Fora, porquanto minha mulher, Sonia Maria ostenta a nacionalidade
portuguesa, adquirida em razão de sua ascendência, pelo lado paterno, como neta de João
Borges de Mattos, antigo associado, diretor e presidente da entidade, e que foi também, durante
muitos anos, Vice-Cônsul de Portugal em Juiz de Fora.
O Colégio dos Jesuítas é outra tradicional instituição de Juiz de Fora a merecer, este ano,
a láurea que lhe confere a Agência de Desenvolvimento. Há 67 anos, esse conceituado
estabelecimento – uma das 17 unidades da Rede Jesuíta de Ensino – vem contribuindo para a
formação das nossas crianças e dos jovens juiz-foranos, desde o nível maternal II até a terceira
série do ensino médio. Inaugurado em 1956, como Colégio Imaculada Conceição, é hoje uma
portentosa instituição de ensino, pautada pela linha educacional da Ordem religiosa criada por
Inácio de Loyola, no século XVI. Expandiu-se consideravelmente nos últimos anos, tanto no que
concerne às suas instalações materiais quanto ao número de alunos matriculados, ganhando lugar de destaque entre os colégios da cidade e honrando as tradições de Juiz de Fora no campo do ensino. Seja-me permitido revelar que tenho a satisfação de ver matriculados nesse prestigioso estabelecimento meus netos Júlia e Rafael.
Trazendo até nós a marca da pujança econômica de Juiz de Fora, aparece, entre os agraciados com a Comenda Bernardo Mascarenhas, a Fábrica de Doces Brasil. Empresa de conceito firmado nas áreas da indústria e do comércio, foi fundada em 1945, por João Jaime. Do estabelecimento de início instalado na Rua Marechal Deodoro, expandiu-se,
significativamente ao longo dos anos e hoje mantém 10 lojas para venda de seus produtos, em
diferentes pontos da cidade. Suas unidades incorporaram-se à paisagem urbana e são,
atualmente, pontos de referência de Juiz de Fora. Mais do que isso, juiz-foranos de diferentes
gerações conservam na memória afetiva lembrança dos bolos, doces e salgados, ali adquiridos,
para comemoração dos seus aniversários, na infância ou na juventude. Tornou-se conhecida,
como nas melhores confeitarias, a variedade de biscoitos que oferece.
Correspondendo à abrangência regional da Agência de Desenvolvimento, fecha o rol dos agraciados na categoria de pessoas jurídicas a Universidade Federal de São João del-Rei. Com o
status de universidade federal desde 2002, a instituição é, hoje, das mais importantes do estado, com cerca de 15 mil alunos matriculados em seus seis campi, três localizados na cidade em que tem sede – a capital almejada pelos inconfidentes – e os demais em Divinópolis, Ouro Branco e Sete Lagoas. A universidade oferece 54 cursos de graduação e 30 programas de pós-graduação (mestrado e doutorado). Participa do REUNI (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) e do programa EXPANDIR, do MEC. Nos seus vinte e um anos de existência como instituição federal, a Universidade de São João del-Rei tem contribuído significativamente para o ensino superior, em Minas Gerais e honrado as tradições culturais da histórica cidade em que tem sede. Como antigo professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, vejo, com orgulho, a instituição coirmã ganhar prestígio, ano a ano, no concerto das universidades do País.
Com relação às quatro agraciadas que acabo de mencionar, ressalta, a toda evidência, o
atributo de empreendedorismo, que constitui pressuposto da outorga da Comenda Bernardo
Mascarenhas. Dir-se-ia que todas poderiam invocar a notoriedade do papel que vêm desempenhando nas suas áreas de atuação como credencial suficiente à honraria que recebem.
Quanto a mim, longe estaria de poder fazer o mesmo. Indagado que fosse dos títulos que me
habilitariam a receber tão nobre insígnia, não me restaria senão dizer, humildemente, como na
prece de reverência ao Senhor – Non sum dignus. Incorreria, porém, em falsa modéstia se não
reconhecesse que, ao menos, associei-me, nos muitos anos de vida já vividos, a algumas
iniciativas suscetíveis – elas, sim — de ser enquadradas no conceito de empreendedorismo.
Negá-lo, seria desmerecer os próprios trabalhos a que emprestei modesta contribuição. Velho
professor de Direito, pude estender meu labor além da sala de aula ou da direção de minha
faculdade, atuando, com denodo, na Comissão Nacional de Ensino Jurídico da OAB, que, por seis
anos, presidi. Exerci, aí, ingente trabalho no sentido de valorizar o ensino jurídico no País,
defendendo-o, até mesmo, de iniciativas infelizes do Conselho Nacional de Educação e
empenhando-me, junto a mais de um Ministro de Estado da respectiva área, no sentido de evitar
a degradação desse ensino, em dado momento, ameaçado de reduzir-se a um curso tecnológico,
ministrado em três anos. Orgulho-me, por outro lado, de haver participado, nos idos de
1959/1960, como então presidente do Diretório Central dos Estudantes, na linha de frente da
campanha que culminou na criação da Universidade Federal de Juiz de Fora, cujo Conselho
Universitário integrei, em sua primeira composição, como representante dos estudantes. No plano da administração pública, permitam-me recordar que, ainda jovem advogado, procurei dar ao grande Prefeito Adhemar Rezende de Andrade, em sua segunda administração
(1963/1967), a assessoria jurídica de mim requerida, em vários projetos, entre os quais destaco, pela sua importância para a reformulação do serviço telefônico urbano em Juiz de Fora, a criação da TELEMUSA – Telefônica Municipal S. A., sociedade de economia mista então instituída, cujo papel, para o objetivo assinalado, não foi ainda reconhecido pelo nossa história, como seria deesperar.
Cada de um de nós – os dignos representantes das instituições e empresa agraciados e este orador –, ao receber a Comenda Bernardo Mascarenhas, vê-se instado, naturalmente, refletir sobre o papel desempenhado pelo eminente vulto que lhe dá nome no desenvolvimento de Juiz de Fora e da região, procurando, assim, extrair de sua vida nobilitante a melhor cópia de lições para o incremento de suas atividades em prol do mesmo objetivo.
Bernardo Mascarenhas nasceu, a 30 de maio de 1847, na Fazenda de São Sebastião, situada no município de Curvelo. Era filho do major da Guarda Nacional Antônio Gonçalves da Silva Mascarenhas e de sua esposa Policena Ferreira Pinto Mascarenhas. Iniciou suas atividades
na freguesia de Tabuleiro Grande, então pertencente ao município de Sete Lagoas e que hoje corresponde à cidade de Paraopeba. Ali, juntamente com dois irmãos, estabeleceu-se com uma fábrica têxtil, que foi a primeira do País movida pela força hidráulica. Em seguida, implantou, em cidades vizinhas, duas outras fábricas de tecidos. Depois de realizar estudos de Física e Mecânica nos Estados Unidos, durante um ano e meio, retornou ao Brasil e acabou radicando-se em Juiz de Fora.
Já casado com D. Amélia Guimarães Mascarenhas, Bernardo Mascarenhas era homem maduro e industrial experiente quando aqui iniciou a etapa gloriosa de sua vida, em 1887.
Dando sequência à atividade em que se especializara, fundou, em 1888, a Cia. Têxtil Bernardo Mascarenhas. E partiu para outro empreendimento, destinado, originariamente, a atender àquela fábrica, com o fornecimento de energia elétrica: construiu a usina de Marmelos, a 1ª. Usina Hidroelétrica da América do Sul. Além da finalidade imediata a que visava, foi essa usina que possibilitou a Juiz de Fora ver-se dotada de iluminação pública elétrica antes mesmo que o Rio de Janeiro, capital do País, contasse com esse recurso do progresso. Na esteira do referidoempreendimento, Bernardo Mascarenhas tornou-se concessionário do serviço de energia
elétrica no município, tendo sido um dos fundadores da Cia. Mineira de Eletricidade, que
abasteceu a cidade até poucos anos atrás, quando o serviço foi assumido pela CEMIG. Em razão
dos seus conhecimentos especializados na área, foi chamado a planejar e dirigir a execução da
rede de iluminação pública da nova capital do estado, vendo-a inaugurar-se a 11 de dezembro
de 1897, véspera da transferência oficial da sede do governo estadual de Ouro Preto para a então
Cidade de Minas.
Em Juiz de Fora, já vitorioso no campo industrial, empresário de destaque, Bernardo
Mascarenhas emprestou seu concurso à fundação do Banco de Crédito Real de Minas Gerais, integrando sua primeira diretoria, como diretor-secretário e vindo depois a presidi-lo.
Republicano histórico, quando o governo imperial pretendeu contemplar a contribuição por ele dada ao desenvolvimento econômico do País outorgando-lhe o título nobiliárquico de Visconde de Paraibuna, declinou da honraria.
Bernardo Mascarenhas faleceu, em Juiz de Fora, a 9 de outubro de 1899. Tinha, portanto, 52 anos. Mas a sua passagem por este mundo projetou-se além do século que findava e perenizou na obra que construiu. Não sendo natural desta cidade e tendo aqui vivido apenas a fase derradeira de sua vida, figura, no entanto, por justos motivos, no panteão de Juiz de Fora, como um dos seus pró-homens.
Eça de Queirós, traçando o perfil do grande homem, dizia que “O grande homem é aquele que”, por seus atributos intelectuais, espirituais ou de empreendedorismo, atingiu, “pela
ação os mais altos resultados do que todos os seus contemporâneos na latitude do seu século, acrescentando que essa “obra superior”, particularmente no caso do homem de ação, “é
produzida por um não sei quê que possui o grande homem, que se chama gênio, cuja natureza
não está suficientemente explicada mas que constitui uma força infinitamente maior que o
simples talento, o simples gosto ou a simples virtude.” Bernardo Mascarenhas foi um grande
homem.
A Agência de Desenvolvimento de Juiz de Fora e Região, criada para ser uma instituição
propulsora do nosso progresso, ao adotá-lo como patrono, quis ter como guia esse grande
homem, buscando na sua trajetória operosa e fecunda a inspiração que pudesse conduzi-la ao
pleno êxito da missão que se propunha. Assim como a energia elétrica produzida pela usina
pioneira que construiu e que iluminou a cidade, no final do século XIX, o exemplo deixado por
Bernardo Mascarenhas haverá de iluminar, ad aeternum, os caminhos de quantos queiram
engajar-se nos empreendimentos futuros com que ele terá sonhado e nós haveremos de ver
realizados.