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Estado de luto

Por Nikao Duarte – Ninguém que tenha nascido, esteja aqui ou viva distante, ou que adotou esta terra como sua, está imune ao que acontece no Rio Grande do sul desde uma semana atrás. Mesmo que não tenha sido atingido materialmente, ainda que permaneça sob o conforto de uma residência preservada. Porque a todos nos afeta a tragédia que se espalha de Norte a Sul e de Leste a Oeste deste estado com um formado assemelhado a um coração. Um coração partido! Estraçalhado na forma de destroços e de entulhos, efeitos de uma devastação sem precedentes, que nos arrasta, real e metaforicamente, para um sentimento de luto coletivo.

Estamos todos sob perdas. De vidas, principalmente. Da centena de mortos pela enxurrada e pelos desabamentos, das dezenas de desaparecidos em meio ao aguaceiro sem tréguas. Mesmo os que não precisamos deixar nossos lares estamos machucados pelas dores de nossos próximos – sejam eles familiares, amigos, desconhecidos, humanos e demais seres vivos. Quanta desolação à nossa frente! Quanta impotência frente à expressão da tragédia.

Sob esses efeitos de guerra, atenua-nos a singela possibilidade do que conseguimos reunir em doação às necessidades do flagelo: das nossas roupas, que serão mais úteis aos outros neste momento de perdas totais, ao mais singelo e insignificante pix que fazemos para custear uns litros d’água mineral, uns quilos de alimentos, alguma quantidade de medicamentos e até os custos de uns funerais.

Sobretudo, atenua o nosso pesadelo a esperança que se faz plural: ela vem dos brasileiros que do Acre a Santa Catarina; dos benfeitores dos cinco continentes. Todos reforçando nossas equipes de salvamento e nossos recursos para recuperar vidas e infraestrutura. É dessa generosidade que tiraremos força, inclusive para a nossa recuperação emocional. Somos mais de 11 milhões em estado de comoção e de luto.