Quem passa hoje pela Primeiro de Março, em meio ao seu pesado trânsito e constantes engarrafamentos, costuma não se dar conta de que essa rua foi a grande protagonista do processo de crescimento do Rio de Janeiro por quase quatro séculos, nem que ela testemunhou alguns dos mais importantes fatos da História do Brasil – do tráfico negreiro às cerimônias de coroação de D. João VI, D. Pedro I e D. Pedro II. Imagina menos ainda que já foi chamada de Praia da Cidade, ou que, em suas elegantes confeitarias oitocentistas, os cariocas puderam experimentar os seus primeiros sorvetes.
São muitas histórias para contar sobre essa rua, cuja trajetória remonta aos tempos de fundação da cidade, quando Mem de Sá, o terceiro governador-geral do Brasil, escolheu o Morro do Castelo para instalar o núcleo de colonização das terras da Guanabara. Ali se fixaram os jesuítas, a Câmara e os funcionários d’El Rey designados para coordenar o povoamento. Não muito tempo depois, os beneditinos se alojaram no Morro de São Bento.
Margeando a praia, foi aberto um caminho conectando os dois morros. Nessa estradinha, foram edificados o fortim de Santa Cruz, erguido onde hoje fica a Igreja de Santa Cruz dos Militares, e a ermida de Nossa Senhora do Ó, entregue à ordem religiosa dos carmelitas pela Câmara em 1590. Ao lado da antiga capela, na década de 1610, os padres construíram um convento e, por causa de sua presença ali, a via passou a se chamar Rua Direita da Praia de Nossa Senhora do Monte do Carmo, ou simplesmente, Rua Direita. Só virou Primeiro de Março em 1875, para marcar a data (1/3/1870) em que o Brasil derrotou o Paraguai, após longo período de guerra, e que, coincidentemente, também era o dia de fundação da cidade (1/3/1565).