Direito Global
blog

Weber, craque no campo e como cartola

É inacreditável mas há 18 anos a Seleção Brasileira não ganha uma disputa mundial de futebol. A última conquista ocorreu em 2002 no Japão quando tínhamos jogadores como Ronaldo Fenômeno, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho ( hoje lamentavelmente preso no Paraguai) entre outros. Naquela ocasião o chefe da delegação era o carioca mas radicado em Brasília há muitos anos, Weber Magalhaes.

Nascido em 10 de maio de 1958, Weber chegou a jogar profissionalmente no Brasília Esporte Clube entre 1978 e 1980. Preferiu “pendurar”a chuteira bem novo e foi convidado a treinar a Seleção Brasiliense juvenil e depois a Seleção Brasiliense profissional.

Atuando como cartola, foi vice-presidente de finanças da Federação Metropolitana de Futebol; presidente do Brasília Esporte Clube e depois presidente da Federação Metropolitana de Futebol. Atuou ainda como secretário de esportes do governo do Distrito Federal. A partir daí, passou a ser convidado para integrar o quadro de dirigentes da CBF.
Hoje, com 62 anos, com larga experiência no mundo esportivo, preside há três anos o Sociedade Esportiva do Gama, mesma cidade onde nasceu um dos maiores jogadores do pais: Kaká. Também nasceram no Gama o zagueiro campeão do mundo, Lúcio; Amoroso; Washington Coração Valente, Dimba e o ex-jogador do Fluminense e hoje atuando no Japão, Marco Junior, entre outros.

Weber analisa neste entrevista ao direitoglobal.com.br o título conquistado em 2002; a carência de títulos pela Seleção Brasileira; a situação financeira dos clubes brasileiros, grandes e pequenos e também se foi válida a construção do estádio Mané Garrincha. Ele acredita que, a partir do momento que o Gama conseguir voltar para a série A do futebol, advogados, juízes, promotores, enfim, o torcedor em geral, voltarão a frequentar os estádios na capital da República.

P-Em 2002 você era o chefe da delegação brasileira. Qual a sensação de ser campeão do mundo pela última vez?
R-Realmente, em 2002 estava na chefia da delegação do Brasil na Copa do Japão. Não tenho como expressar a emoção de ser campeão do mundo chefiando uma delegação da Seleção Brasileira. Um momento emocionante, impar na nossa vida. Todos nós sonhamos um dia, principalmente aqueles que jogamos futebol, jogar com a camisa amarela, vibrar com a Seleção , torcer e expressar todo sentimento que o povo brasileiro tem com a Seleção. Pude acompanhar de perto como chefe da delegação a última conquistam do Brasil no pentacampeonato. Foram 45 dias de muita emoção, muita pressão, muita alegria, às vezes muita tensão. Foi uma emoção muito forte acompanhando lado a lado uma Seleção pentacampeã do mundo. Sair de Tóquio, chegar em Brasília, cidadede onde resido há tantos anos, descer no aeroporto com toda a equipe, ser recebido pelo Presidente da República é fantástico. A emoção foi maior quando o avião entrou no espaço aéreo brasileiro e fomos escoltados por dois jatos da Força Aérea Brasileira (FAB). Toda a delegação estava em um MD 11 da Varig e foi uma emoção que vou guardar para o resto da minha vida. Muitos choraram naquele momento impar.

P-Por que não fomos mais campeões do mundo?
R-Na minha análise por uma série de fatores. Entressafra, jogadores, a política dentro do futebol brasileiro foi muito conturbada, houve saída de presidentes, brigas, discussões. Perdemos um pouco nos bastidores dentro da Confederação Sul-Americana, dentro da FIFA. A entidade maior do futebol mundial isolou o Brasil por causa das denúncias que atingiram a CBF. Isso tudo atinge diretamente o futebol. Muitos jogadores atuando no exterior, nao tem o sentimento do torcedor brasileiro. Sempre digo que o Brasil é favorito em todos as competições que disputamos no futebol, seja infante, juvenil, juniores e o principal. Mas, nesse momento a Europa, a Ásia, estão se preparando com mais profissionalismo. Levam muitos jogadores novos do Brasil. Os talentos estão aparecendo fora do nosso país. Fica difícil porque faltam ídolos no futebol brasileiro. É um somat ó rio de tudo. Bastidores, jogadores, amor a camisa etc… Temos que analisar com profundidade tudo o que aconteceu no pais após 2002. Em 2014 tivemos a infelicidade de perder de uma maneira que ninguém esperava. Muita coisa aconteceu, como corrupção, e tudo isso atinge diretamente o jogadores.

P-Qual o motivo de não surgirem mais craques de verdade como Pelé, Garrincha, Rivelino, Gerson, Paulo César Caju, Zico e tantos outros ?
R-Sentimos saudades de grandes clássicos com jogadores como Pelé, Garrincha, Rivelino, Gerson, Paulo Cesar Caju, Zico, Roberto Dinamite, Romario, Ronaldo. Muitos jogadores, como disse, estão indo jogar no exterior muito cedo. A Seleção Brasileira, praticamente, toda ela é formada por jogadores que atuam fora do país. Tem jogadores convocados que o povo brasileiro não conhece. Aquele jogador não virou ídolo no país. Está fora, em uma outra estrutura, outro ambiente, e o torcedor é carente de grandes craques, grandes ídolos, grandes clássicos. Tínhamos Flamengo e Vasco , no Rio de Janeiro, com Zico de um lado, Dinamite de outro; Corinthians jogando com Rivelino, Sócrates enfim, uma série de jogadores de primeira linha; o Internacional de Falcão. Hoje, lamentavelmente, os jogadores que podem brilhar nos seus clubes vão muito cedo para atuar em outros continentes. Vão estourar no exterior e não criam aquele amor que é muito necessário. Qual um grande ídolo que está jogando hoje no Brasil, que puxa e que leva a torcida para o estádio ? E preciso reverter urgentemente o quadro e conseguir segurar os nossos craques nos clubes brasileiros.

P-Por que grandes clubes brasileiros, como Vasco, Botafogo, Corinthians estão falidos?
R-A dificuldade é muito grande. Falta patrocínio, de jogadores de nome, os salários são altíssimos e, às vezes, os clubes são obrigados a colocar valores salários em jogadores que atrapalham financeiramente toda a estrutura. Isso nao acontece apenas em grandes clubes, acontece aqui também no Gama, onde sou presidente. Ás vezes para o clube chegar com condições em uma competição, somos obrigados a pagar um pouco mais, arriscar um pouco mais. Temos que analisar os valores pagos aos atletas que ganham fortunas e o clube nao aguenta pagar sem criar um buraco financeiro. Briga de torcidas, falta de ídolos, falta de craques, falta de patrocínio etc.. influi muito. Vai demorar para termos um clube no país saneado em suas finanças. Veja a situação caótica do Cruzeiro de Belo Horizonte, do Vasco da Gama, do Corinthians. Clubes pequenos como o Ga ma aqui de Brasilia, a dificuldade é enorme. Se os grandes clubes tem dificuldades financeiras, imaginem os considerados pequenos.

P-Foi um erro a construção do estádio em Brasília para a Copa ?
R-Acho que foi um erro a construção do estádio Mané Garrincha. Avisei para o governador da época e todos avisaram que a abertura da Copa nao seria em Brasilia. A abertura seria em São Paulo, como foi. Poderiam ter construído um estádio moderno com capacidade de até 35 mil pessoas, como é o clube que presido, o Gama, que tem o estádio Bezerrão com 20 mil lugares. O Mané Garrincha com 70 mil lugares é um estádio muito grande para o momento do futebol brasileiro. Nao é fácil encher o estádio, apenas com jogos pontuais e que os clubes estejam muito bem colocados na tabela.No ano passado conseguimos colocar na final do campeonato local entre Gama e Brasiliense cerca de 35 mil pessoas. Quase 90 por cento de torcedores do Gama. Se tivermos um clube na série A o Gama, por exemplo, leva até 45 mil torcedores ao estádio. Nao havia nenhuma nece ssidade de construir um estádio desse porte na cidade. Enfim, os governantes é que decidem e eles é que tem que agora pagar a conta.

P-Onde vc pretende levar o Gama?
R-O Gama tem um sonho. Chegar novamente a integrar a série A do futebol brasileiro. No ano passado conquistamos o título invicto, estamos para voltar após a pandemia. O Gama hoje tem uma dívida de quatro milhões de reais. Para um clube como o nosso é uma dívida nao é tão grande mas atrapalha porque nao temos patrocínio, estamos sem, visibilidade. O Gama tinha um patrimônio muito grande e hoje restou apenas o Centro de Treinamento (CT). Estou há três anos na presidência tentando resgatar o nome do clube. O Gama é uma Ferrari sem gasolina. O pagamento do Gama mensalmente é de 350 mil reais. Um jogador do Vasco, do Flamengo ganha isso. O reserva desses clubes paga a nossa folha. Os clubes pequenos passam por um momento muito complicado.