“A pandemia da violência contra as mulheres permanece, mas temos que lutar contra ela também”, afirmou Luiza Brunet, empresária, atriz e modelo brasileira que foi vítima desse tipo de violência e tornou ativista da causa. Ela foi a convidada da videoconferência “Violência Doméstica – Alerta Vermelho Enfrentamento e Superação”, realizada pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
A live abordou as diversas formas de violência doméstica, das mais sutis ao feminicídio, enfatizando os cinco tipos – violência moral, psicológica, patrimonial, sexual e física – previstos na Lei Maria da Penha que completa 14 anos hoje. O objetivo foi sensibilizar os participantes para o enfrentamento e combate da violência doméstica, por meio de relatos, reflexões e do compartilhamento de experiências.
Luiza Brunet abordou a importância dos grupos de reflexão para os homens agressores para que percebam suas atitudes contra mulheres, idosos e crianças. “Não sou contra os homens, sou contra aqueles que são agressores, eles precisam desconstruir o machismo”, disse Luiza, que compartilhou sua trajetória de sofrimento e abusos sofridos com os participantes.
História de vida
“Nasci numa família pobre de lavradores no interior do Mato Grosso e cresci vendo minha avó e minha mãe sendo agredidas, inclusive fisicamente. Meu pai bebia muito e nesses momentos até apontava arma para minha mãe. Fugindo da agressão, ela nos levou, eu e meus irmãos, para morar no Rio de Janeiro e lá comecei trabalhando como empregada doméstica aos 12 anos e fui abusada pelo meu patrão. Me casei aos 16 e aos 17 comecei a trabalhar em um salão de beleza porque queria ser cabelereira. Foi quando me tornei modelo por acaso e sofri muita violência, em forma de assédio, na minha carreira, havia muito desrespeito com as modelos e atrizes”, ela contou.
“E no dia 21 de maio de 2016, três dias antes do meu aniversário de 54 anos, fui violentamente agredida quando tive três costelas quebradas e o olho roxo, a marca que fica da violência na maioria das mulheres agredidas fisicamente. Denunciei o caso no Ministério Público de São Paulo (MPSP), onde fui muito bem acolhida e ganhei o processo em que todos os magistrados votaram a meu favor. Tenho muito a agradecer ao sistema de Justiça”, disse Luiza.
“No início fiquei muito assustada e constrangida com a repercussão do meu caso, hoje eu valorizo a repercussão porque mostrou que a violência não enfrenta barreiras sociais, ela está em todas as classes”. Ela disse que todos devem apoiar essa causa e lutar pelo direito das mulheres de poderem sonhar e pelo direito da sociedade de viver em harmonia.
“Infelizmente a pandemia da violência contra as mulheres permanece, mas temos que lutar contra ela também”, afirmou a ativista, lembrando que a violência doméstica aumentou durante o isolamento social imposto para conter a pandemia da covid-19.
Os magistrados que participaram foram unânimes em afirmar que a violência contra a mulher desequilibra a sociedade porque desequilibra famílias inteiras. É a segunda causa mais recorrente no 190, número de telefone gratuito da Polícia Militar que deve ser acionado em casos de necessidade imediata ou socorro rápido.
Ao ser perguntada sobre sugestões para melhorar o atendimento às mulheres vítimas de violência, Luiza Brunet afirmou que o acolhimento a essas mulheres, especialmente fragilizadas nesses momentos dramáticos, é de fundamental importância para que elas tenham força para seguir com a denúncia e refazerem suas vidas.
A ativista disse que o apoio passa pelo sistema de Justiça que, na sua opinião, está cada vez mais sensível à causa. Ela lembrou ainda das casas de acolhimento que recebem mulheres vítimas de violência, que não têm para onde ir, que precisam de mais investimentos.
E inspirada na escritora brasileira Lya Luft, Luiza Brunet deixou uma mensagem para as mulheres: “Apesar de todos os medos, cabe a nós, mulheres, escolher a ousadia”.
Participaram da live o presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), desembargador Gilson Soares Lemes; o 2º vice-presidente do TJMG e superintendente da Escola Judicial Desembargador Edésio Fernandes (Ejef) desembargador Tiago Pinto; a superintendente da Coordenadoria da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Comsiv), desembargadora Ana Paula Nannetti Caixeta; a superintendente adjunta da Comsiv, desembargadora Paula Cunha e Silva; a juíza da Comarca de Ibirité, Daniela Cunha Pereira e o juiz da Comarca de Belo Horizonte, Marcelo Gonçalves de Paula.