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Filho de jornalista assassinado quer ser deputado

No dia 5 de julho de 2012 o radialista Valério Luiz, com 49 anos, foi morto a tiros em frente a rádio em que trabalhava, na região sul de Goiânia. Conforme denúncia feita pelo Ministério Público, o crime foi motivado pelas críticas constantes que o jornalista esportivo fazia a diretoria do Atlético Goianiense, da qual Maurício Sampaio, um dos réus, era vice-diretor. Até hoje o crime não teve desfecho na Justiça.

O julgamento do crime contra o radialista Valério Luiz perdura há dez anos. Em 14 de junho deste ano, o julgamento foi adiado pela quarta vez e uma nova data foi marcada: 5 de dezembro. A razão para o adiamento foi que um jurado passou mal e saiu sem permissão do hotel onde estava isolado. Diante disso, o júri foi dissolvido – o que significa que o julgamento foi encerrado sem um resultado devido a algum problema. O novo julgamento deverá acontecer desde a fase inicial, escolhendo novos jurados e ouvindo novamente todas as testemunhas.

Conforme a investigação, em 2012 o então vice-presidente do clube, Maurício Sampaio decidiu renunciar ao cargo diante dos maus resultados da equipe, que ficou como penúltima colocada do Campeonato Brasileiro. Por isso o jornalista esportivo Valério Luiz criticou a diretoria do Atlético e afirmou que “quando o barco está enchendo de água, os ratos são os primeiros a pular fora”. Essas e outras críticas do comunicador à cúpula atleticana teriam motivado o homicídio.

Os protelamentos ocorrem em razão dos diversos recursos impetrados em tribunais estaduais e federais, por atrasos processuais, fuga e até por causa de troca de advogados e quebra de protocolo – como ocorrido da última vez. Cinco homens são acusados pelo Ministério Público de Goiás: Maurício Borges Sampaio, Urbano de Carvalho Malta, Ademá Figuerêdo Aguiar Filho, Marcus Vinícius Pereira Xavier e Djalma Gomes da Silva. Sampaio chegou a ficar detido por 94 dias, mas aguarda em liberdade o julgamento.

Na data que marca dez anos desde o assassinato do jornalista, o filho dele, Valério Luiz Filho, falou sobre sua empreitada na política. O advogado de 33 anos é pré-candidato a deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Em 2016, ele também disputou, pelo PSD, a Câmara de Goiânia e obteve 3.787 votos, ficando na suplência do partido.

O legado da família na política é antigo. O avô de Valério Filho, Manoel José de Oliveira, conhecido como Mané de Oliveira, foi deputado estadual e faleceu em 2021, antes de vivenciar o desfecho da história do filho. De acordo com o pré-candidato, o intuito é dar andamento ao trabalho do avô. “Quero dar continuidade a ações que já eram desenvolvidas no mandato do meu avô Manoel, de proteção a vítimas de violência. Quero usar a estrutura de mobilização do gabinete”, disse.

Valério Filho destacou que, dentre as suas principais pautas, pretende trabalhar com a melhoria do sistema de segurança pública, com a efetividade da Justiça e com ações anticorrupção. “A gente chegou a propor um fundo para assistentes de acusação, para advogados que quiserem ajudar o Ministério Público a fazer os casos caminharem, uma função que eu exerço e que eu quero que seja feito em outros casos. Quero melhorar as estruturas de delegacias para receber vítimas, pois muitas vezes elas são revitimizadas, elas já sofrem violência e na hora de procurar o Estado não recebe a devida atenção. Também quero passar um pente fino nos contratos do estado, de modo a mobilizar o judiciário a entrar com ações para contratos fraudulentos e qualquer corrupção do governo”, elencou.

O pré-candidato também afirmou que pretende desenvolver mobilizações sociais para que casos de violência receba atenção de órgão públicos. “Um deputado não só faz e aprova leis, ele tem estrutura para mobilização social, para que instituições como a Defensoria Pública e o Ministério Público, atuem na proteção de vítimas de violência. Usar essa mobilização para que os processos cheguem a um desfecho justo, principalmente nos crimes contra a vida. No caso do meu pai, a gente está vendo deficiências em alguns processos que demoram demais para chegar na Justiça”, ressaltou,

O advogado diz que pretende “tornar o nosso estado mais justo para todas as pessoas” e que a maior motivação dele para entrar no universo político foi a percepção de como a justiça pode ser deturpada. “A medida que toda pessoa que precisa do apoio de muita gente, do apoio de muitas instituições, para conseguir algum objetivo, cedo ou tarde ela já percebe que está fazendo uma empreitada política. O assassinato do meu pai ocorreu há dez anos atrás, então o que me motivou não foi o assassinato em si, mas a contatação de todos esses anos de que a estrutura de justiça, via de regra, não existe para responsabilizar pessoas como aquelas acusadas de matar o meu pai. Pessoas com alto poder econômico. Isso é uma ameaça para todos”, afirmou.